Rui Teixeira, dirigente do PCP Açores

Pouco tenho que me aproxime de Rui Rio. Recordo três tristes marcas suas: a censura da CDU, quando não agradava à política do PSD na Câmara do Porto; a vergonhosa cedência à chantagem do PS na recuperação do tempo de serviço dos professores e de outros funcionários públicos; e o acelerar da especulação imobiliária na cidade do Porto. Mas não pude deixar de me espantar com a importância dada pela comunicação social a acontecimentos recentes.

Antes de ir a estes acontecimentos, será útil olharmos para uma importante herança da Revolução de Abril. No fascismo, a nossa vida coletiva, política e económica era decidida por gente desconhecida, em gabinetes e corredores muito bem escondidos. Ao contrário daquilo que tantas vezes nos querem vender, a corrupção e os favores dominavam os negócios. Os ministros de Salazar entravam e saíam para as administrações das grandes empresas em função das conveniências. Deputados, ministros e outras figuras do poder político desconheciam a realidade vivida pela esmagadora maioria do povo.

Abril veio inverter esta lógica, que apenas favorecia a miséria e a exploração. O poder passou a pertencer ao povo, a política deveria ser exercida em proximidade com os cidadãos. A nossa democracia é, sem dúvida, imperfeita. Em particular, esta proximidade entre a política e os cidadãos deixa muito a desejar – mas isso será, apenas, a minha opinião. E é porque atribuo a esta proximidade uma importância tão central que me identifico com a CDU: as visitas de deputados são mais para ouvir do que falar, as instituições com que reúne conhecem a realidade, as soluções são construídas de baixo para cima, depois de conhecer a realidade, para melhor intervir. Penso que qualquer análise objetiva à atividade das várias forças políticas concluirá que nenhuma outra assume esta postura de forma tão completa e constante como o PCP e a CDU. Mas estou-me a dispersar.

Rui Rio e o PSD estarão a ser investigados porque foram usadas verbas da Assembleia da República para pagar salários de funcionários do PSD. É importante ter presente que não se conhece uma parte importante dos contornos deste caso, nomeadamente a origem das verbas e as funções desempenhadas por estes funcionários do PSD. Só isso será o suficiente para não comentar o processo de investigação. E a independência do Ministério Público justifica que, por princípio, não seja comentada a sua atuação, ao contrário do que alguns têm feito. No entanto, a exploração que tem sido feita pela comunicação social, muito para lá da simples notícia e da apresentação dos factos ou da sua análise, deu uma outra dimensão a esta situação. Emerge a ideia de que a vida política só tem lugar nos gabinetes da Assembleia da República – algo que não deve ter lugar no Portugal de Abril. Efetivamente, a proximidade entre a política e os cidadãos exige que a política saia dos corredores da Assembleia da República e dos Ministérios. Em paralelo, surge a exploração mediática destes casos até à exaustão – algo que a atuação do governo do PS tem ajudado –, na maioria das vezes empolando muito mais do que eles permitem. Simultaneamente, oculta-se a verdadeira fonte da corrupção: o favorecimento do enriquecimento das grandes empresas. E assim se vai confundindo erradamente política e corrupção, fazendo um jeito ao discurso populista da extrema direita…

Do Porto, muitas peças jornalísticas haveria a fazer. Já apresentei aqui duas. A especulação imobiliária que expulsa quem dá alma à cidade não é de agora e teve com Rui Rio um triste acelerar. Podiam também investigar as incoerências entre o discurso e as posições do PSD. Com tanta notícia que poderiam explorar… terão as televisões escolhido esta apenas por ser mais fácil ou por conveniência?

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