Alexandra Manes, Dirigente e deputada do BE/Açores

A leitura atenta da recente entrevista do Vice-Presidente, Artur Lima, ao Açoriano Oriental recordou-me as aulas de história, naqueles dias em que nos questionávamos se todos aqueles conteúdos nos serviriam, na prática, do dia-a-dia.

Recuei aos tempos romanos, aquando da formação do primeiro Triunvirato de Roma antiga.

Ora, de forma simples, o Triunvirato é um governo exercido por três pessoas, tal como o que acontece na nossa região. Em Roma, o primeiro aconteceu através de um acordo, que embora informal, levou a que Caio Júlio, Pompeu e Crasso comandassem os destinos do Império Romano.

Cada um tinha as suas próprias razões para a união, percebendo que não poderiam atingir seus objetivos sozinhos. Tinham conquistado sucesso pessoal, mas queriam mais gloria e dignitas (glória e dignidade). Portanto, uniram os seus recursos, colocaram de lado as suas diferenças e apoderaram-se do controle do Estado. Porém, para lá das boas intenções e realizações pessoais, a união era ténue.

O senado era algo que os incomodava, pois, o desejo dos três era o total controlo sobre o poder militar e, também, do senado.

O plenário de julho foi palco de vários apartes reveladores da analogia entre esse Triunvirato e o atual cenário político. Aquando do debate da proposta do BE para o alargamento das refeições escolares a todas e a todos os alunos, cujos preços dependem do escalão, no período de férias, ficou clara a incoerência das bancadas da direita e do Governo. Se às segundas, quartas e sextas condenam veemente que as medidas se dirijam unicamente aos mais vulneráveis da região, às terças e quintas condenam as medidas que visam todo o universo escolar, que englobam todas as famílias que, ao momento, enfrentam grandes dificuldades para gerir os seus recursos financeiros e que têm filhos em idade escolar.

A proposta do BE acabou sendo aprovada, mas não deixamos de perceber que, afinal, o que havia sido aprovado naquela Assembleia para baixar os preços das senhas das refeições não está a ser cumprido pelo Governo Regional, bem como ainda ouvi, em aparte por parte de um membro do Governo, que as medidas aprovadas, ao momento, não eram para cumprir. Referia-se ao alargamento das refeições. Ou seja, uma proposta que acabara de ser aprovada por uma maioria de deputadas e deputados já com o destino traçado.

Tal como o senado era um incómodo para Júlio, Pompeu e Crasso, a Assembleia Legislativa é um desconforto para Bolieiro, Lima e Estêvão, pois votam-se propostas que não são do seu acordo.

Em Roma, com o passar do tempo, as diferenças entre os membros da aliança e sua própria ganância pessoal conduziram à ruína do Triunvirato. No momento, porém, os três viram uma oportunidade e aproveitaram-na.

Na nossa região, com o seu Triunvirato, muito pouco foi feito. Não há um novo modelo socioeconómico que permita alavancar os Açores e fixar jovens. As políticas para a habitação são o suspiro de Bolieiro para os Vistos Gold que só dificultam, aina mais, a aquisição de habitação por parte das e dos açorianos. Continuam a mascarar-se as e os desempregados e a pobreza segue e soma. Insiste-se em falar de meritocracia na região mais pobre do país e com mais desigualdades sociais.

O Triunvirato açoriano tem sido um rol de enganos, de avanços e recuos e de muita arrogância. Um erro “Crasso” para a nossa região que, passados quase 3 anos de governação, continua a argumentar o seu fracasso com os 24 anos anteriores.

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