Hernâni Bettencourt, jurista

Dou por mim a fazer, regularmente, esta pergunta. E acredito que não estarei sozinho. Mas se estiver, também não há qualquer problema. Cada cabeça, sua sentença. É assim que gosto de ver o mundo. A pergunta aqui em causa vem sempre associada a determinados erros ou opções muito discutíveis. Ainda há dias estava a ver um jogo da nossa seleção e essa pergunta não me saía da cabeça. Olhava para o João Vieira Pinto e lá estava a pergunta. Olhava para o treinador e lá surgia a pergunta. Olhava para os jogadores convocados e lá estava ela. Olhava para um grande falhanço e lá vinha a pergunta. Olhava para a reação do público aquando da entrava do Octávio e…Toda esta sucessão de eventos e consequente repetição da pergunta pode ser resolvida de duas formas: ou hibernando ou aceitando que as coisas são mesmo assim. Opto, evidentemente, pela segunda opção. Mas sempre com uma aceitação assente na crítica. Não contem comigo para ver algo que reputo de errado e nada dizer, ou pior, juntar-me à claque dos fundamentalistas. Mesmo no mundo irracional do futebol é possível, e desejável, manter-se uma pontinha de racionalidade. O Ronaldo, o nosso capitão, por ter o estatuto planetário que tem, não significa que está imune à crítica. E muito menos que seja intocável. Ronaldo merece o mesmo respeito que todos os outros colegas e é tao criticável como todos os outros. A questão é que as críticas ao Ronaldo atingem sempre outra dimensão. E isso, obviamente, está relacionado com a sua brilhante carreira. As coisas são mesmo assim.É a resposta que, seguramente, Ronaldo dá quando faz a pergunta aqui em causa. Os elogios fáceis e as virtuais palmadinhas nas costas são sempre em maior número. Mas é preciso saber lidar com a crítica. A crítica, devidamente fundamentada, é crucial. Tal como é a pergunta que dá título a este texto.No futebol e não só… No dia a dia, para quem acompanha a vida política local, regional, nacional e até internacional, a pergunta está sempre presente. Basta ouvir determinadas declarações; ler algumas reações ou até ver certas opções que os nossos representantes tomam. Por vezes, tal é a dimensão da asneira, que fica no ar a dúvida se não é mesmo de propósito. Isto seguindo aquela famosa máxima de Santana Lopes que, certo dia, nos disse: falem bem ou falem mal, o importante é que falem de mim! Na Figueira da Foz é inequívoco que o homem tem seguidores, mas ao ver o que vejo, todos os dias, concluo que o seu clube de fãs é de âmbito nacional. Com tanto ruído mediático e erros atrás de erros, não tarda e estaremos todos a fazer a tal pergunta numa qualquer próxima noite eleitoral. Nessa altura, podemos recorrer ao Ronaldo para ver se ainda haverá vagas nas equipas da Arábia Saudita. O ar por cá pode ficar parecido, mas por lá parece que se ganha mais umas coroas. Como é que é possível?

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