O presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada defendeu hoje a necessidade de a autarquia ir ao encontro das “reais necessidades” das pessoas em situação de sem-abrigo, no âmbito do projeto-piloto PDL ‘Housing First’.

Em declarações aos jornalistas, Pedro do Nascimento Cabral referiu que o projeto vai avançar com duas casas no concelho de Ponta Delgada, visando dar “um passo seguro, certo, firme, no objetivo de melhorar a qualidade de vida daqueles que não têm um teto para se abrigarem da chuva e do frio”.

O município promoveu hoje a assinatura dos protocolos de cooperação com a Novo Dia – Associação para a Inclusão Social, e com a Crescer na Maior, no salão nobre dos Paços do Concelho, que são os parceiros da autarquia na implementação do ‘Housing First’ em Ponta Delgada.

O projeto ‘Housing First’ surgiu nos Estados Unidos da América há cerca de 20 anos e foi introduzido em Portugal em 2009, sendo que 90% das pessoas acolhidas pela iniciativa não regressaram à condição de sem-abrigo.

Neste projeto, as pessoas são integradas em habitações tendencialmente individuais e têm um acompanhamento por técnicos que os ensinam a gerir uma casa tendo em vista a sua integração social.

Ponta Delgada tem vindo a registar um aumento de pessoas sem-abrigo, tendo várias associações empresariais manifestado “profunda preocupação” com o “aumento da pobreza, mendicidade, alcoolismo e toxicodependência” no centro da cidade.

Segundo o autarca, que dispõe de vários estudos, o número de sem-abrigo no concelho é flutuante e ronda atualmente as 200 pessoas.

Pedro do Nascimento Cabral disse ainda que, na sequência da “evolução da situação”, a Câmara Municipal de Ponta Delgada e as duas associações envolvidas estarão “disponíveis para que o projeto seja de sucesso”, através de mais habitações.

Américo Nave, diretor executivo da Crescer na Maior, promotor do projeto em Lisboa, recordou que, na capital, começou-se com sete casas, em 2013, e hoje existem 380 habitações ao abrigo do ‘Housing First’.

O responsável disse ainda que “há muitas outras cidades a desenvolver este projeto, que também se tem mostrado de grande eficácia em todo o mundo”.

“Este projeto começa por dar uma casa e depois podemos tratar do todo o resto que seja necessário, como a saúde mental e os comportamentos aditivos”, frisou Américo Nave.

O dirigente associativo referiu que dados internacionais revelam que “80 a 85% das pessoas não voltam à situação de sem-abrigo”, subindo este valor para 90% no caso de Lisboa.

Hélder Fernandes, da Associação Novo Dia, referiu por seu turno que, “nesta primeira fase, haverá uma abordagem de rua junto das pessoas que se encontram na situação de sem-abrigo”, que irá privilegiar “quem se encontra há mais tempo a viver na rua e que não recorre aos serviços sociais existentes, ou que tenha algum comportamento aditivo ou doença mental”.

“No futuro, o objetivo é abranger o máximo de pessoas, porque estamos a falar de pessoas sem casa e sem teto, sendo que todas têm direito a uma habitação”, referiu Hélder Fernandes, que ressalvou que a sua associação acompanha neste momento 150 pessoas em situação de sem-abrigo.

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