Rui Teixeira, dirigente do PCP Açores

Mais uma vez, a Ribeira Quente ficou isolada, fustigada pelo mau tempo. Felizmente que nada de grave aconteceu, mas a proteção da vida humana não pode depender da sorte. Há muito que a CDU exige a construção de uma segunda via de acesso à Ribeira Quente. Certamente que a despesa é elevada. Até há quem diga, à boca pequena, que não vale a pena o investimento, talvez pensando para si que a freguesia é pequena e está habituada a uma vida difícil. Discordo. Trata-se da proteção de uma comunidade, trata-se de vidas humanas. Será que o governo regional espera por uma nova tragédia para dar, finalmente, razão à CDU?

Já no lado norte de São Miguel, o olhar é outro, felizmente. Finalmente, parece que o governo regional reconheceu a necessidade de proteger a freguesia das Calhetas da erosão marítima, que ameaça as habitações da freguesia. Os acidentes já aconteceram e só não houve vítimas por acaso. A CDU denunciou o problema já há mais de 10 anos. Na altura, o governo regional do PS ignorou os avisos. A câmara, cuja função é ser a voz dos munícipes, não mostrou grande preocupação com este problema, focando-se mais na contabilidade eleitoral e em apostar na visibilidade que lhe facilitasse a sobrevivência política.

Veremos se os anúncios de intervenção na orla marítima das Calhetas, por parte do governo regional, que já têm mês, terão resultados práticos. Até agora, as mudanças estão, apenas, no discurso. Mas, quando a CDU levantou o problema – há 10 anos, recordo – já era tarde. E só por sorte não houve, ainda, nenhuma tragédia… A vontade, por parte do governo regional, parece existir. Mas há que colocar a dúvida: como é que será possível concretizar esta obra, que implica investimentos elevados, com este orçamento regional? Como é sabido, a verba destinada ao investimento público foi drasticamente cortada, em todas as ilhas, e está proibido contrair nova dívida bancária. Assim, parece difícil passar do discurso aos atos. Portanto, veremos se este compromisso será cumprido, ou se será, apenas, mais uma promessa sempre adiada.

A visita do Paulo Raimundo aos Açores teve um pouco de tudo. Em menos de 4 dias, o secretário geral do PCP focou a maioria dos principais problemas sentidos pelos Açorianos. Defendeu a habitação acessível para todos e o alívio dos custos com o crédito à habitação, recordando a proposta do PCP, de fixar o spread máximo da Caixa Geral de Depósitos em 0,25%, chumbada pela coligação do costume: PS, direita e extrema direita, que preferiram os lucros dos bancos ao direito à habitação. Criticou a política económica regional, construída pelos governos regionais do PS e que as direitas coligadas mantiveram, com a aposta na pobreza e nos salários baixos, na desigualdade nos rendimentos a favor das grandes empresas, no emprego incerto e precário, nos horários de trabalho que tiram tempo para a família. Criticou a falta de apoio aos agricultores e pescadores, esmagados pelo aumento dos custos dos fatores de produção. Valorizou a produção cultural regional, como expressão da identidade deste nosso Povo, que devia receber 1% do orçamento regional, como forma de responder às necessidades de quem vive e produz Cultura.

Nada disto deveria ser digno de nota. Mas, infelizmente, é, porque são problemas graves, que são tão sentidos pela generalidade dos Açorianos como são evitados pela coligação das direitas  e pelo PS. Quando os abordam, preferem lançar acusações em vez de apontar soluções – talvez porque saibam que ambos dividem as responsabilidades nestas matérias…

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