Ontem, foi Dia da Criança, que lhes costumamos dedicar, mas que não pode ficar esquecido no resto do ano. Quantos Açorianos não tiveram direito a ser Crianças? Quantas Crianças Açorianas não têm, hoje, a infância que merecem? Uma infância feliz, que permita o desenvolvimento intelectual, físico, social, emocional? Serão, certamente, muitas. Os efeitos serão, também, muitos e, frequentemente, dramáticos.
Quantas Crianças ficam até mais tarde no ATL ou na escola, porque o horário de trabalho dos Pais não permite ir buscá-las e terem tempo para brincar? Ou não vêm os Pais ao fim de semana, porque eles têm de fazer horas extraordinárias, para completar o salário? Quantas Crianças não têm a estabilidade emocional necessária em casa, porque a própria vida dos Pais é instável?
Em quantas Famílias não é possível acompanhar o crescimento dos seus filhos? Quantos Pais e Mães não conseguem expressar o seu amor, acompanhar de perto o crescimento, demonstrar compreensão e confiança, estimular o desenvolvimento, porque todos estes lhes faltaram na sua própria infância, porque nunca os puderam aprender?
Quantas Crianças não têm refeições completas e equilibradas? Quantas têm necessidades educativas especiais sem que a Escola tenha recebido os meios para lhes dar resposta? Quantas Crianças não têm óculos, ou não acedem às consultas das especialidades de que precisavam, por falta de Médicos e porque não podem pagar uma consulta no privado?
Quantas Crianças não sabem o que é uma habitação com qualidade, que lhes permita a segurança, a privacidade, o espaço para estudar e para brincar? Sim, brincar! Brincar é um direito de todas e de cada Criança!
Mas o adiar destes direitos tem causas e tem consequências, graves. Tem causas, que vivem na organização social e económica do país e dos Açores. Por isso, este não é um problema individual, mas sim social. A verdade é que quem promove e apoia a exploração crescente dos Pais e Mães promove, também, a degradação da vida das Crianças. Quem promove baixos salários, empregos incertos, horários desregulados e más condições de trabalho está, também, a promover o esquecimento dos Direitos das Crianças! É que, ao mesmo tempo que as grandes empresas regionais vão juntando milhões de euros de lucros, milhares de Açorianos são empurrados para a pobreza. Com a toda a complacência do governo regional. Não é possível cumprir os Direitos das Crianças se os próprios Pais não tiverem as condições para tal!
Quanto às consequências, limitar ou prejudicar o desenvolvimento físico, intelectual, social e emocional de uma Criança será algo que terá efeitos em toda a sua vida, tanto na sua saúde, como no seu trabalho – e, logo, na economia –, como na sua vida social e familiar. Interromper este ciclo vicioso é essencial. Termos Crianças felizes é essencial para as próprias, mas também para o futuro da Região! Não é por acaso que, na comemoração do centésimo aniversário do PCP, uma das três intervenções foi inteiramente dedicada a este assunto… E uma coisa é certa: uma sociedade saudável, equilibrada, justa, não descansa enquanto não for garantido, em pleno, o Direito das Crianças a ser Criança. A todas as Crianças!