A ilha Graciosa, nos Açores, tem “um enorme potencial” gastronómico, mas necessita de ser explorado e divulgado, defendeu hoje a investigadora Helena Juliano, responsável técnica do projeto “Saborea – Património Gastronómico da Graciosa”.

“Pretende-se que, findo o projeto, os profissionais de restauração estejam sensibilizados para a necessidade de uma drástica mudança da sua oferta e para isso é necessário fazê-los descobrir e acreditar nas suas tradições e na riqueza gastronómica da ilha Graciosa”, adiantou, em declarações à Lusa.

Até domingo, o projeto “Saborea – Património Gastronómico da Graciosa” promove visitas a fábricas e explorações agrícolas, almoços, jantares e ‘workshops’ com três ‘chefs’ de fora da ilha.

O objetivo é incentivar o uso de produtos locais e saberes tradicionais na restauração local e promover a ilha como um destino gastronómico sustentável.

Helena Juliano fez um “inventário do património gastronómico da ilha”, à semelhança do que já tinha feito na ilha do Pico.

“Entre produtos agrícolas, frutícolas, vitivinícolas, gado e espécies marítimas consumidas, destaca-se um número bastante vasto de produtos de grande qualidade, começando pelo alho de cor rosada, que desde 2021 passou a ter indicação geográfica protegida, a batata-doce, a abóbora, a cebola de rama, as tão conhecidas meloas da Graciosa, as bananas, os figos, asa laranjas e outras. A carne é de distinta qualidade e o pescado e marisco distinguem-se pela frescura e sabor único”, salientou.

A investigadora detetou, no entanto, um desconhecimento por parte das gerações mais novas da confeção de “um número considerável de receitas que há cerca de 50 anos fazia parte dos hábitos alimentares diários” da ilha.

“É absolutamente crucial, identificá-las e inventariá-las para que não se percam no tempo pois são parte integrante da identidade deste povo”, frisou.

Para Helena Juliano, os ‘workshops’ promovidos por este projeto, com os ‘chefs’ André Cruz, Nuno Bergonse e Paulo Lourenço, são “um forte ponto de partida” para a divulgação do potencial “enorme” da gastronomia da ilha.

“Pretende-se que resulte numa enorme aquisição de conhecimento dos produtos locais e seus potenciais, na sensibilização para a importância da utilização desses produtos na gastronomia local, na repescagem do receituário antigo e na introdução de técnicas para a sua reinvenção, preservando o sabor tradicional mas com uma imagem renovada e atualizada”, explicou.

Os ‘workshops’ contaram com mais de 15 inscrições, número que superou “as melhores expectativas”, segundo o presidente do núcleo empresarial da Graciosa da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH), Vítor Mendes.

“Esta iniciativa, pelo seu formato, que procura envolver todo o território e as suas gentes, tem todos os ingredientes para que se crie uma maior consciência de que a Graciosa, assim como todos os lugares, devem, antes de mais, dar primazia ao seu produto e ao saber fazer local, oferecendo a todos algo mais do que uma simples refeição, algo mais próximo da experiência, na qual possamos servir património à mesa enquanto potenciamos a economia local e procuramos valorizar o setor primário”, apontou.

Segundo Vítor Mendes, a utilização dos produtos locais pela restauração da ilha “está muito condicionada pela escassa formação na área dos promotores deste setor e por uma certa falta de articulação entre os produtores e os consumidores, com destaque para os restaurantes”, mas a gastronomia “pode ser um atrativo turístico” da Graciosa.

“Esta iniciativa não conseguirá, por si, resolver todos os problemas da ilha, mas, estamos convencidos que será um bom pontapé de saída para um percurso que se avizinha longo e que deve contar com o constante empenho de todas as instituições e indivíduos que têm responsabilidades na construção de um destino turístico gastronómico, no qual, o produto local deve ser protagonista”, sublinhou.

O “Saborea-Património Gastronómico da Graciosa” é promovido pela Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo e pela Agência para o Desenvolvimento da Cultura nos Açores (ADCA), em parceria com a Câmara Municipal da Graciosa, sendo cofinanciado pelo programa Interreg Mac.

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