Já quase tudo foi dito sobre a crise que se instalou no Governo da República. As trapalhadas, mentiras e demissões, como se sabe, não começaram agora na Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da TAP e episódios sucedentes, vêm desde o início da legislatura, de uma maioria absoluta que rapidamente resvalou para arrogância e a impunidade.
António Barreto, insuspeito socialista, sintetizou brilhantemente o estado do país num jornal lisboeta: “Uma República de garotos”. Nesse mesmo dia Cavaco Silva assinou o epitáfio da governação socialista. Obviamente, as palavras do antigo Presidente da República e ex-Primeiro Ministro tiveram outra ressonância e reação – um tem a autoridade moral de muitos anos de militância no PS; o outro o crédito institucional e político acumulado no exercício das mais altas tarefas na Nação. Cavaco fala e o país ouve, respeita a sua opinião, acompanha-o, pondera sobre o que ele diz, com tudo o que daí resulta para a política.
É precisamente este efeito, a consequência da intervenção pública de Cavaco Silva, que o PS teme. António Costa, em vez de responder com um governo consistente e competente, rigoroso e transparente, determinado a resolver os problemas (que são muitos e graves) do país, aproveita para cultivar o seu estilo brejeiro, atira a pedra, qual garotinho que logo esconde a fisga.
O homem de Boliqueime renunciou ao silêncio senatorial que alguns advogam para os ex-Presidentes? Nem pensar. Soares e Sampaio diabolizaram Passos Coelho. Uma simples pesquisa no google devolve à memória entrevistas e frases assassinas.