Vi por aí um certo gáudio com a jogada surpreendente de António Costa em manter Galamba como ministro. Os ultras da claque costista ignoraram, olimpicamente, toda a encenação e farsa que lhe estava associada. O pedido de demissão surgiu em cima dos telejornais e quando já estava agendada uma comunicação ao País do Primeiro-Ministro. Galamba, sem um pingo de vergonha, aceitou ser usado por Costa para ser atingindo um suposto interesse maior. Galamba, ou quem escreveu o pedido de demissão, sabia que o teor da carta era letra morta. Costa, que até apelidou a “caboiada” no ministério de deplorável, veio falar em consciência e responsabilidade para assumir o papel daquele famoso soldado que marchava ao contrário.
António Costa tinha um único propósito: dar um passo em frente. Costa aproveitou as “galambices” para relembrar Belém das suas competências exclusivas na formação do Governo. Fê-lo em jeito de provocação institucional. No fundo, avisou que não voltaria a segurar no guarda chuva e que queria mesmo uma forte tempestade. Marcelo, ainda Costa respondia aos jornalistas, fez sair uma nota oficial a dizer que discordava da manutenção em funções do ministro Galamba e deixou a claque a festejar durante dois dias. Marcelo é Professor Catedrático na Faculdade onde Costa e milhares de outros alunos tiraram a licenciatura. Isto não significa que seja melhor ou pior do que ninguém. Mas aconselhava a muita prudência. O sábio povo tem uma máxima que diz o seguinte: nunca ateies um fogo que não consegues controlar. Costa não deve conhecer tal ditado. Mas após ouvir a comunicação de Marcelo já deve saber do que se trata. Marcelo sabia o que Costa queria. Marcelo, que não faz nada por acaso, andou meses a recordar os seus poderes. Costa, farto de ameaças e vendo o contínuo desmoronar do governo, achou que era a hora de encostar Marcelo à parede. Marcelo, seguramente, há meses à espera deste dia, até saiu de Belém para ir comer um gelado e, obviamente, não fez aquilo que Costa queria. Marcelo, tal como Costa, sabe que a cada dia que passa o Governo perde força. Marcelo sabe o que virá ainda aí na comissão de inquérito à TAP. Marcelo, sabendo tudo e mais alguma coisa, decidiu vir a público dar uma aula de ética republicana e responsabilidade política. Marcelo, com requintes de malvadez, disse apenas e só o seguinte: sois todos Galambas. Marcelo amarrou o Primeiro-Ministro e todo o Governo a um ministro ligado à máquina. E não se trata da máquina que estão a pensar. Refiro-me a um detetor de mentiras. E isto é o grau zero da política. Teremos, daqui em diante, um governo a ser esturricado lentamente. Essa foi a opção de Costa. Esperar que Marcelo fosse o bombeiro salvador é não conhecer o Professor Marcelo. No meio das labaredas e das “galambices” continua um país abandonado à sua sorte…