A Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada (CCIPD) alertou hoje para o momento crítico que os transportes marítimos atravessam, que tem causado “sérios prejuízos” às empresas, e anunciou que vai solicitar reuniões ao Governo Regional dos Açores.
A preocupação foi manifestada numa reunião da direção e da comissão especializada da Indústria da Câmara do Comércio de Ponta Delgada, que se realizou em 26 de junho, tendo a associação empresarial das ilhas de São Miguel e Santa Maria destacado que os problemas com os transportes marítimos são um dos principais constrangimentos que está a afetar o setor industrial e a gerar “forte preocupação”.
“Nos últimos seis meses perdeu-se a previsibilidade da data de chegada e de partida dos navios de contentores, o que afeta a produtividade, a eficiência e a operacionalidade das empresas açorianas”, aponta a comissão especializada da Indústria da CCIPD, em comunicado de imprensa divulgado hoje.
Segundo a associação empresarial, a situação está a prejudicar gravemente a atividade comercial das empresas com compromissos assumidos nos mercados junto dos clientes e estará relacionada com a “falta de investimento” no porto de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
“Os sucessivos governos dos Açores não têm dado a devida importância estratégica do porto de Ponta Delgada. A falta de investimento nos equipamentos do porto e a não tomada de decisão sobre o novo modelo de transportes para a região, tem prejudicado as decisões de investimento dos armadores e a evolução da carga não foi acompanhada pelo investimento necessário no porto, que representa mais de 60% do total da carga movimentada nos Açores”, refere.
A associação empresarial destaca ainda o elevado preço do transporte, sobretudo para os utilizadores das ilhas de São Miguel e de Santa Maria, que “suportam o custo do preço ser igual para todas as ilhas”.
Por outro lado, acrescenta a associação, o porto de Ponta Delgada tem atualmente dois reboques, um dos quais, o Pêro de Teive, “tem 27 anos”.
Além disso, operam três gruas, mas duas delas “estão constantemente avariadas e são pouco eficientes”, porque “uma tem 23 anos e a outra 13 anos”.
“Não pode o maior porto dos Açores operar nestas condições, tendo muitas vezes de recorrer às gruas dos navios, que são pouco produtivas por terem mais de 20 anos”, criticam os empresários, para quem a gestão das prioridades nas chegadas dos navios, consoante o tipo de tráfego, “não se tem mostrado a mais adequada” no porto de Ponta Delgada.
A CCIPD defende a implementação de um modelo de transporte marítimo assente “num modelo de obrigações de serviço público cujos custos sejam assumidos pelo orçamento público, desonerando os operadores e os consumidores finais das ilhas que mais utilizam o sistema”.
No caso de Santa Maria, é ainda urgente garantir que o modelo “tenha capacidade efetiva de servir a ilha com ligações semanais tal como anunciado pelo Governo Regional”, de coligação PSD/CDS-PP/PPM, acrescenta.
A associação empresarial identifica o modelo de transportes das ilhas Canárias como um modelo a explorar em termos de financiamento, articulando o apoio da Europa através do POSEI e o orçamento público.
Nos transportes aéreos, a associação manifesta também “grande preocupação” com “o aumento extraordinário dos custos da carga aérea aplicado pela SATA” e “a falta de capacidade disponível” em épocas com mais procura de passageiros.
Por outro lado, a Câmara de Comércio alerta para a ineficaz promoção externa dos produtos regionais.
Segundo a associação empresarial, a promoção “está centralizada na Marca Açores, deixando de recorrer às câmaras de Comércio e Indústria como parceiro nas ações promocionais”, além de não existir qualquer ação promocional internacional dos produtos regionais, quer sejam Marca Açores ou não.
A direção e a comissão especializada da Indústria defendem ainda o reforço dos programas de formação técnica, que atraiam profissionais e valorizem a mão-de-obra existente e manifestam “grande preocupação” com a possibilidade de imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos da América, o que poderá “afetar negativamente” as exportações de produtos açorianos para aquele mercado.