Hernâni Bettencourt, jurista

A comissão de inquérito à TAP tem sido uma autêntica rebaldaria. Declarações totalmente contraditórias. Pontas soltas. Estórias mal contadas ou muito mal combinadas em reuniões pouco secretas. Silêncios cúmplices. Encobrimentos evidentes. Narrativas com guiões de novela mexicana de terceira categoria. Deputados inquiridos com postura de outros tempos e outros Deputados que foram na missão impossível de tapar o sol com a peneira. Autorizações de milhares de euros por WhatsApp. E através de símbolos, bonecos e outras palhaçadas. Tudo isto relativamente à “gestão” de uma empresa com a preponderância da TAP. Assuntos de Estado foram “resolvidos” como se de uma qualquer micro empresa familiar se tratasse. E mesma nestas não seria aceitável tanta displicência e incúria. O dossier TAP, incluindo a privatização e posterior nacionalização, é o espelho de um país abandonado à sua sorte. E não há país que resista a tanto.

Muito menos um país pobre como Portugal. É verdadeiramente incrível aquilo que temos vindo a assistir na dita comissão de inquérito. Até a senhora que, seguramente por obra e graça do Espírito Santo, foi parar a secretária de estado não consegue devolver a indemnização que alguém, à revelia de outrem, lhe decidiu pagar quando a dita senhora saltou para outra empresa pública. Tudo isto é muito triste. E pior fica quando percebemos que o nosso dinheiro, o dinheiro que o Estado arrecada dos nossos impostos, é esbanjado sem qualquer tipo de pudor.

Os governantes parece não quererem saber se as suas decisões têm custos e se estes estão devidamente fundamentados e justificados. A ideia que fica é que comprar um avião por 10 milhões ou 100 milhões é igual; pagar uma indemnização de mil ou de 500 mil euros é igual; privatizar às custas do erário público ou nacionalizar às custas do mesmo erário público é igual; fazer bem ou mal é igual; defender o interesse público ou o privado é igual. Não, não é! Não podia, nem devia ser! Tal como não pode ser aceitável esta espécie de generalizada inimputabilidade (política e não só) que reina na classe política. Não sei qual solução ou soluções para resolver este atual e demasiado prolongado estado de coisas. Mas tem de existir. E não vale a pena culpar D. Afonso Henriques, mesmo tendo sido ele a dar o pontapé de saída nesta rebaldaria em que se tornou Portugal. Mas talvez não imaginasse que isto atingisse tamanha proporção…Urge pôr termo a esta rebaldaria. Ou será que já estamos mesmo no domínio da velhacaria?

PUB