Opinião: Rui Teixeira | Inevitável

Em março, foram acontecimentos incontornáveis a greve de há duas semanas e a manifestação que juntou 100 mil em Lisboa, promovidas pelos sindicatos da CGTP. Longe da ideia de que o povo português está acomodado, que não luta, um pouco por todo o lado vamos mostrando o contrário. Por cá, a adesão à greve foi significativa e o descontentamento vai-se mostrando. À porta das escolas, em ações na rua – a mais recente, dos pescadores, mas longe de ser a única – ou em plenários sindicais nas empresas, vai crescendo a consciência de que o governo regional falha nas respostas que são urgentes, preso em prioridades muito afastadas do interesse regional.

Curiosamente, a extrema direita que pretendia formar um sindicato alternativo está calada sobre os seus fracassos. Talvez porque os trabalhadores portugueses saibam bem quem os defende, a extrema direita já falhou os prazos que anunciou. Mas, com o oportunismo do costume, procurando a exploração mediática que as televisões lhes facilitam, juntou-se à manifestação da CGTP. Faltou-lhes entre os manifestantes o apoio artificial que sobrou na televisão.

A situação social é crescentemente dramática. A cada vez mais famílias falta o dinheiro para o básico. As respostas evidentes seriam o controlo dos preços e o aumento dos salários, como não se tem cansado de dizer o PCP. Mas o governo da República, com o apoio mal disfarçado da direita, insiste em votar na Assembleia da República contra todas as propostas que aliviariam o desespero geral. Encostado pelas grandes ações de luta dos trabalhadores em março, o governo anunciou um aumento de 1% e o IVA zero. Mexer no IVA será irrelevante sem o controlo dos preços. Se há coisa que está demonstrada é que acordos entre cavalheiros não funcionam com os donos dos hipermercados. Sobre os salários, recordo que, em janeiro, o ministro das finanças recusou qualquer novo aumento. A única conclusão possível é que foi a luta que o obrigou a mudar a opinião. Ainda assim, é muito insuficiente, o que exige o crescimento do protesto. Só assim será possível construir uma política alternativa – como a História nos ensinou, noutras ocasiões.

Neste caos aparente, os grandes privilégios apostam na confusão que lhes dá jeito. Defendem que não têm culpas dos lucros que acumulam, à conta do aumento de preços que foram eles que decidiram e dos salários que se recusam a subir. A sua estratégia de comunicação tenta vender que tudo isto é inevitável, que a culpa é invisível e que mora noutros lados. Que é inevitável o empobrecimento, a crise social que se instala, o aumento dos preços. A culpa, essa, é do cidadão comum, que insiste em querer ter dinheiro para comer, uma casa, medicamentos, que insiste em querer viver. O governo da República ajuda-os, dizendo que não é possível aumentar salários porque isso agravará a inflação – sem nunca mostrar um único estudo científico que o demonstre.

Por isso, inevitável, não é o sofrimento, não é a crise, não é o empobrecimento. Por mais que nos tentem, ano após ano, vender o contrário, há soluções e Inevitável, mesmo, é a manutenção da Luta, que assegurará a todas as famílias o essencial para uma Vida Digna, para uma Vida Justa!

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