O empresário Martins Mota doou o espólio de José Bruno Tavares Carreiro, jornalista e escritor, com mais de 500 livros de interesse anteriano, à Biblioteca Pública de Ponta Delgada, nos Açores, foi hoje revelado.

Segundo a instituição, a doação inclui “um importante conjunto de cartas, missivas e postais trocados entre José Bruno Tavares Carreiro e António Salgado Júnior”, escritor, historiador e professor, “no período compreendido entre 1942 a 1948”.

“Os documentos conservam os respetivos envelopes, muitos deles visados pela censura e constituem uma fonte de informação adicional sobre os estudos da obra anteriana realizados por José Bruno Tavares Carreiro, lê-se na nota de imprensa.

A este conjunto de correspondência, acresce uma carta de Tavares Carreiro a Reynaldo dos Santos, “conceituado médico cirurgião, no âmbito da famosa visita do grupo dos continentais aos Açores em 1924”, refere.

A questão do processo de datação cronológica das poesias e cartas de Antero de Quental, os poemas de Côlo de Moura, o eventual exílio de Antero de Quental e a relação de “culto” de Antero com Alexandre Herculano, são alguns dos temas abordados nestas cartas.

Este conjunto de documentos, contextualiza, ainda, “o estado de espírito e as vicissitudes passadas” por José Bruno Tavares Carreiro aquando do processo de publicação da sua obra “Antero de Quental, Subsídios para a sua biografia” e da segunda edição de “Raios de Extinta Luz” de Antero de Quental, de acordo com a nota hoje divulgada.

O espólio contém ainda os rascunhos de resposta de António Salgado Júnior a Tavares Carreiro, com as suas observações anterianas e a correspondência de Couto Martins, personalidade que detinha os direitos das publicações literárias de Antero, à data.

Para o empresário Ricardo Martins Mota, a doação constitui “a forma de reconhecer o excelente trabalho técnico de pesquisa e divulgação desenvolvido pela Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, sobre a vida e obra desta ímpar e extraordinária personalidade”, José Bruno Tavares Carreiro.

O empresário da Lagoa, na ilha de São Miguel, citado da nota de imprensa, diz ainda esperar que este conjunto documental possa contribuir para “acrescentar conhecimento” e garantir a sua preservação e divulgação.

Para a diretora da Biblioteca Pública de Ponta Delgada, Iva Matos, “trata-se de um conjunto de cartas que vem complementar não só na sua relação com o arquivo de José Bruno Tavares Carreiro, mas também pelo valor intrínseco dos próprios documentos de um arquivo de um dos grandes especialistas de Antero de Quental”.

A responsável considera que para qualquer estudioso de Antero, e desta época do início do século XX, “tem muito interesse consultar este arquivo que está no domínio público”.

Os registos doados à Biblioteca Pública de Ponta Delgada foram adquiridos por Ricardo Martins Mota em 2010 a um alfarrabista do norte do país, juntamente com outros do espólio documental de António Salgado Júnior sobre os seus estudos da obra de Antero de Quental.

José Bruno Tavares Carreiro foi jornalista, escritor e autonomista, tendo falecido em 1957.

Filho do médico Bruno Carreiro, viveu a sua infância em Ponta Delgada, frequentou o ensino secundário no continente e licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra (1904).

Fundou em 1920 o jornal Correio dos Açores, que dirigiu até 1937.

Ainda segundo o ‘site’ da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, nas páginas daquele jornal diário, José Bruno Tavares Carreiro “desenvolveu uma longa campanha em torno do açorianismo, apoiou e promoveu reivindicações autonomistas”.

Em 1934 publicou “Antero de Quental – Notas sobre a sua vida”, e anuncia (1940) um vasto trabalho de reconstituição da vida daquele poeta, trabalho cuja síntese publicou no seu jornal em 1932-33.

A sua livraria, constituída por mais de 500 títulos de interesse anteriano, deu entrada na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, em 1961, por disposição testamentária.

António Salgado Júnior foi escritor, historiador e professor.

Escreveu a obra “História das Conferências do Casino”, uma dissertação de doutoramento apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

As Conferências do Casino foram criadas por Antero de Quental, em 1871, para estudar a transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa de então.