Sindicato denuncia “chantagens e pressões” para travar greve do comércio na ilha Terceira1

O primeiro de três dias de greve do setor do comércio na ilha Terceira, nos Açores, arrancou com alguns constrangimentos nas maiores superfícies comerciais, apesar de “chantagens e pressões” por parte das empresas, avançou hoje o sindicato.

“Independentemente de todas as ofertas que foram feitas, das chamadas individuais aos escritórios, de todo o tipo de pressão, das propostas de aumento, que agora já puderam ser feitas, os trabalhadores não voltaram atrás e fizeram mesmo greve”, afirmou o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias Transformadoras, Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços, Hotelaria e Turismo dos Açores (SITACEHT/Açores), Vítor Silva, em conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo.

Os trabalhadores do comércio na ilha Terceira iniciaram hoje uma greve de três dias, a primeira específica para o setor nos Açores, de acordo com o sindicato, para reivindicar um contrato coletivo de trabalho “digno”.

Ainda sem números concretos, o dirigente sindical disse que os resultados nas primeiras horas de greve “são extremamente encorajadores”, com alguns constrangimentos nos super e hipermercados das duas maiores empresas da ilha, mas é esperada uma maior adesão no sábado, dia para o qual está marcada uma manifestação em Angra do Heroísmo.

“A informação que temos é que a maior parte das secções está a abrir com chefes de loja, o que já é um sinal, por si só, extremamente importante e mesmo em relação aos contratados tem havido alguma adesão”, adiantou.

Segundo Vítor Silva, a adesão à greve comprova a “determinação e coragem” dos trabalhadores, que foram alvo de “chantagens, pressões e represálias”.

“Temos informações de que os trabalhadores contratados foram avisados que se aderissem à greve não teriam o seu contrato renovado, temos relatos de situações em que chefias de lojas chamaram os trabalhadores um por um para irem ao escritório dizer se iam fazer greve ou não, temos trabalhadores que estavam de férias e foram chamados a vir trabalhar, temos trabalhadores que estavam de folga no sábado e viram a sua folga trocada”, revelou.

A greve, solicitada pelos trabalhadores num abaixo-assinado com mais de 100 assinaturas, avançou como protesto pela forma como decorreram as negociações do contrato coletivo de trabalho com a Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH), mas o sindicato admite a marcação de novas paralisações se as próprias empresas não manifestarem abertura para melhorar as condições de trabalho.

“Esperamos que, da outra parte, haja uma resposta positiva. Se tivermos de endurecer a luta, no próximo mês de maio e no próximo mês de junho assim o vamos fazer”, afirmou, acrescentando que os trabalhadores estão disponíveis para fazer piquetes de greve à porta dos super e hipermercados.

No sábado, às 10:00 locais (11:00 em Lisboa), os trabalhadores do comércio voltam a sair à rua, em Angra do Heroísmo, naquela que será a terceira manifestação do setor desde outubro.

Vão juntar-se também os trabalhadores da cooperativa Praia Cultural, alvo de um processo de reestruturação, que prevê a redução de 65 a 80 postos de trabalho.

Os trabalhadores do comércio reivindicam “horários que permitam conciliar a vida profissional e pessoal”, o “direito ao subsídio de alimentação e a diuturnidades” e a não aplicação da adaptabilidade e do banco de horas, para evitar que “estejam ao dispor das empresas 12, 14 ou 16 horas por dia”.

O setor está há mais de três anos sem contrato coletivo de trabalho e as negociações entre o SITACEHT e a CCAH, que envolveram um processo de conciliação, não tiveram resultados.

A associação empresarial assinou um contrato com outro sindicato, que segundo o SITACEHT não tinha legitimidade ou representatividade para o fazer.

O sindicato já voltou a enviar uma proposta de contrato coletivo, mas diz não ter recebido contraproposta, acusando a CCAH de violar a Constituição.