O PS criticou hoje o “disfarce de apoio à comunicação social” proposto pelo Governo dos Açores porque custear salários dos jornalistas ultrapassa uma linha “profundamente perigosa”, desafiando o presidente do PSD a dizer se concorda com a ideia.
Em declarações à agência Lusa, a deputada do PS Rosário Gambôa teceu críticas à proposta do Governo dos Açores (PSD/CDS-PP/PPM) para criar um novo programa de incentivo à comunicação social, o Media+, que prevê suportar até 40% dos salários dos jornalistas até 1.500 euros e comparticipar formações e projetos multimédia.
“É uma medida que nós sentimos uma profunda inquietação ao observar a possibilidade de ser equacionada. (…) Jornalistas passam a ser pagos diretamente pelo Governo regional dos Açores”, afirmou, avisando para “um risco óbvio para a liberdade dos jornalistas uma vez que a sua independência pode ficar afetada”.
A deputada do PS deixou por isso um desafio direto ao líder do PSD: “gostaríamos que o doutor Luís Montenegro se posicionasse e perguntar-lhe o que é que ele acha, se concorda com esta forma de apoio à comunicação social, se não vê aqui nenhum risco, se é este tipo de modelo que irá adotar, em associação com o Chega, se alguma vez for Governo na República”.
Considerando que é ultrapassada uma “linha vermelha”, Rosário Gambôa afirmou que “as tendências e as pulsões que estão por trás desta linha vermelha são óbvias”, bem como “os riscos que estão aqui em cima da mesa são óbvias”.
“Num disfarce de apoio à comunicação social, que é sempre bem-vinda e necessária, entra-se por uma linha de apoio que é profundamente perigosa”, condenou.
A deputada do PS quer assim que o PSD esclareça se “é este tipo de visão de apoio à comunicação social que um dia terá se alguma vez vier a ser Governo”, deixando claro que esta “não é uma questão menor de uma política de um Governo regional”.
“O PS é e sempre será a favor da liberdade de imprensa e de uma comunicação social livre e independente. Sentimos aqui alguma ferida nesta matéria”, referiu.
Para a socialista, as medidas de apoio à comunicação social são importantes, mas “há linhas vermelhas que não podem ser ultrapassadas”.
“A nós o que nos inquieta é que isto demonstra um modo de estar e de operar da parte da direita, apoiada neste caso também pela extrema-direita do Chega, que traduz uma visão autoritária”, alertou.
Depois desta proposta ter sido noticiada pela agência Lusa na terça-feira, o líder do PS/Açores, Vasco Cordeiro, acusou o Governo Regional de querer “controlar a comunicação social” com este novo programa.
Já na quarta-feira, o presidente do governo açoriano, José Manuel Bolieiro, classificou como um “disparate” as críticas de que o executivo pretende controlar a imprensa com o novo programa de apoio à comunicação social privada, que, realçou, foi construído com a participação dos jornalistas.