Entre os dias 23 e 26 de agosto, a freguesia do Porto Formoso vai acolher o Eco Festival Azores Burning Summer, que vai muito para além da programação musical. É um verdadeiro exemplo de que os festivais e a sustentabilidade podem andar de mãos dadas. O Jornal Açores 9 e a Açores 9 rádio estiveram à conversa com Filipe Tavares, organizador e promotor do evento, para saber mais sobre o primeiro festival eco dos Açores.
The Legendary TIgerman, Selma Uamusse, Filipe Karlsson e Club Makumba são alguns dos 60 artistas que vão atuar no festival, onde uma das maiores missões é a sensibilização do impacto ambiental e preservação da natureza.
Um dos principais aspetos do festival é a sustentabilidade, o organizador do evento revela que existe um grande trabalho com os fornecedores. Por exemplo, com o sistema de refil promovendo uma economia circular, mas também, na escolha dos materiais utilizados de forma a minimizar os resíduos.
Dos balcões do bar nada vai para o lixo, “é tudo reutilizável”, garante. As bebidas não foram exceção: os copos vendidos são reutilizáveis sob uma caução. A restauração também não ficou de fora e abraçou a sustentabilidade: todos os materiais são biocombustíveis e são mais tarde, transformados em energia renovável, o biogás que é devolvido à natureza em forma de fertilizante natural.
Na sua primeira edição, em 2015, Filipe recorda que após o festival o chão do recinto estava inundado por “(…) um mar de copos de plástico, e isso causou-me uma sensação muito desagradável. Falei com a equipa do festival, e disse que a única maneira de nós fazermos outras edições será se nós conseguirmos dar a volta a esta situação, mudar de paradigma”.
E assim foi, o Azores Burning Summer tornou-se pioneiro nos Açores a abraçar a vertente ecológica com o objetivo, de reduzir o impacto ambiental que estes eventos acarretam. Além da programação musical, o festival conta com mais dois programas: o programa ecológico com diversas atividades tais como, as Eco Talks, Ecomarket e a exposição de veículos elétricos. O programa cultural onde estão inseridos mais dois projetos – o Vive e o Habitat de modo, a contribuir para “o sentimento de pertença” da comunidade.
Além das diferentes atividades que integram os três programas do evento, Filipe Tavares adiantou “a grande novidade”: a finalização do processo requalificação do Parque dos Moinhos. O terreno passou por uma “desintoxicação”, foi lavrado e retiraram os resíduos que muitos dos campistas deixavam por lá, tal como beatas, estacas de tendas e até mobiliário de campismo.
O campismo ilegal no parque dos moinhos já não era novidade, o promotor conta que foi um processo longo. “O campismo foi aumentando e o prejuízo foi maior, até chegarmos ao ponto de trabalharmos no sentido, de impedirmos (…) porque a natureza estava a sofrer com isto (…) o parque dos moinhos servia de casa de banho a céu aberto e não tinha condições de salubridade para aguentar com aquelas pessoas todas.”
O organizador do festival acrescentou em entrevista à Açores 9 Rádio, que ao longo dos anos a sua equipa tem-se empenhado e esperam que “as pessoas tenham a melhor experiência”. O evento que decorre no Porto Formoso “não é um festival de massas” aliás, o festival só ocupa 2/3 da lotação que lhe é permitida por lei, “(…)há uma preocupação em dar conforto, segurança, qualidade (…)”, afirma.
Os programas que integram o festival têm muitas das atividades gratuitas “cerca de 50% da programação do festival é de acesso gratuito”: o shuttle, o transporte das pessoas do parque de estacionamento e os próprios parques.”
Por outro lado, o organizador do Azores Burning Summer revela que cerca de 80% do investimento realizado do evento vai para empresas locais e profissionais e há efetivamente, a preocupação de integrar os jovens da comunidade local para trabalhar na produção do festival eco.
Para além da preocupação pela mãe natureza, o evento preocupa-se com o “Ruído Visual Zero” ou seja, proporcionar uma experiência para quem está no festival sem qualquer tipo de publicidade “a disfrutar da envolvência natural do recinto”, explicou Filipe à Açores 9. Este ano, e à semelhança do que aconteceu no ano anterior, o “Beatas Zero” é outro projeto que consiste na distribuição de cinzeiros individuais, de forma a evitar as beatas no recinto.
Em entrevista à Açores 9 Rádio, Filipe contou as origens deste festival que remetem para o início dos anos 2000. Foi precisamente no ano de 2002, na Praia dos Moinhos, local onde guarda muitas memórias, que ocorreu o esporádico “Moinhos 2002”. O festival que descreve como “inesquecível” não tinha na altura, a pretensão de continuar. Foi através de contactos e mais contactos, que Filipe Tavares chegou ao Adrian Sheerwood. O produtor musical britânico, com o qual mantêm amizade até aos dias de hoje, viajou até aos Açores para atuar no evento organizado por Filipe, numa época em que ainda não havia muitos festivais na ilha.
Treze anos depois do inesquecível “Moinhos 2002”, Adrian Sheerwood contactou o produtor e organizador do Azores Burning Summer, “recebi um telefonema do Adrian a dizer que tinha muitas saudades de vir aos Açores e que já estava na altura de arranjar um guig (…)” contou, à Açores 9. A partir do telefonema, nasceu a vontade de realizar um festival anual, o Azores Burning Summer.