Hernâni Bettencourt, jurista

É comum dizer-se que quando nada se quer resolver, fica sempre bem pedir um estudo ou então criar um grupo de trabalho. Como diz a sabedoria popular: enquanto o pau vai e vem… Mas, e talvez por sentir-me bem no papel “do contra”, discordo desta corrente. E a discordância aumenta quando vejo que, afinal, há estudos bons e estudos maus. Se o estudo for encomendado por um dos meus é claramente uma opção justificada; é uma demonstração de visão; é a prova da boa gestão; é fundamental ouvir quem sabe; etc.. etc… Se o estudo for pedido pelos outros (pelos maus), é um puro disparate; é um gasto desnecessário; é a prova de que não sabem o que fazer; é um atestado de incompetência; é apenas empurrar com a barriga; etc.. etc… Esta é a chamada política da terra queimada. Isto, na verdade, não é política. É, sim, fazer da Política um mega recreio. Isto, por si só, justificava um grande estudo. Um estudo – a publicar no ano (o próximo) em que se assinalarão 50 anos de Democracia – que nos dissesse, preto no branco, as causas para isto ser assim. A ideia, talvez arrojada, era ter um documento justificativo para os alegados “melhores” da sociedade estarem arredados da vida política. A Política, no seu sentido lato, é um assunto de todos. Acontece que não é isso que vemos.

O afastamento é evidente. Os níveis de abstenção estão aí à vista de todos. Os tais alegados “melhores” ou mais capazes fogem a sete pés do desempenho de cargos públicos. É preciso saber as razões. Será da remuneração? Será da devassa da vida privada? Será da forma como se chega ao poder? Eu, que não aceito que se diga que os cargos públicos e até partidários são para os serviçais sem vida profissional, gostava de perceber o que vou vendo há muito tempo. E vejo, como sempre, pelos meus próprios olhos. E não gosto do que vejo. E não percebo como as pessoas continuam a vestir fatos que não lhes servem. É preciso estudar, a fundo, este fenómeno. É fundamental separar o trigo do joio. Há gente com muita qualidade em todo o lado. Há gente que aceitaria desempenhar cargos noutro contexto. O País precisa desse contexto. O País não se pode dar ao luxo de dispensar essa gente. Ainda há dias saía uma noticia que relatava a perda de “cérebros” para o estrangeiro. É preciso estancar este fenómeno. É preciso aproveitar o conhecimento que existe. Esta é uma das principais missões do Governo. A Política, no seu verdadeiro sentido, congrega à sua volta os melhores. São estes que puxam o País para a frente. Cada qual na sua área, na sua atividade, na sua arte, no seu mundo… Ao Governo, qualquer que seja, compete pôr a orquestra a tocar. O estudo que defendo teria, não tenho dúvidas, o mérito de afinar a dita orquestra e, assim, sairíamos do vira o disco…

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