O masoquismo não vai tão longe na política: nenhum governo tem prazer em decretar aumentos de preços. Se o faz é porque a tanto é obrigado, trate-se da água, dos impostos ou da margarina.
A subida do preço do gás deu brado. Como era expectável, gritaram os pagantes e os habituais insurgentes, sempre dispostos a abraçar causas alheias, na mira de uma simpatia, ou para ser mais claro, na busca de um futuro voto – em outubro os eleitores vão às urnas e tudo vale para conquistar apoios.
Contas feitas, a botija aumentou cinco euros, ou 30 por cento, dizem os mais afoitos na arte de comunicar. Uns e outros não quiseram saber onde param as modas, que é como quem diz, quanto custa a mesma botija na Madeira ou no continente. Por evidente conveniência, pois em Trás-os-Montes e em Lisboa a botija custa mais 10 euros, ou mais 43 por cento, como diria um espertalhão. E o madeirense desembolsa mais cinco euros, feitas as contas, 21 por cento mais.
Honra se deve a certa trupe que ainda há pouco tempo reclamava a igualdade de preços nos combustíveis, quando aqui, momentaneamente, o custo da gasolina e do gasóleo se aproximou do preço tabelado nas bombas do Alentejo e do Porto. Tais reclamantes fazem agora voto de silêncio, sinal de que ainda há um pingo de inteligência.
E já que o tema é energia, vale também a pena dizer que o programa Solenerge, o tal dos painéis solares, foi um verdadeiro sucesso, esgotando-se 19 milhões de euros, um ano e meio antes da sua conclusão. Quem outrora considerou a dotação exagerada reclama hoje o reforço da verba. É a faísca do costume.