Na véspera do Dia dos Açores, Cristina Chú coordena uma equipa de voluntários ligados à Filarmónica das Lajes do Pico que prepara 600 refeições para servir à população, entre carne assada, arroz-doce e sopas do Espírito Santo.

“Somos poucos e bons”, começa por dizer Cristina Chú, 62 anos, quando a agência Lusa chega às instalações da Filarmónica Liberdade Lajense, onde oito pessoas estão atarefadas a ultimar o arroz-doce, a cortar cebolas, a descascar alhos entre outros afazeres.

A equipa prepara a refeição que vai ser servida no âmbito do Dia dos Açores, que se comemora no dia seguinte, conhecida como Segunda-Feira do Espírito Santo e que assinala as festas de religiosidade popular que acontecem em todas as ilhas do arquipélago.

“Gosto de colaborar. Temos de ajudar uns aos outros. Se nós não colaborarmos, a nossa terra não tem nada”, prossegue depois Cristina Chú, de olho atento nos preparativos.

Este ano, o Dia dos Açores vai ser celebrado nas Lajes do Pico e a confeção do almoço aberto à população, onde são servidas as típicas sopas do Espírito Santo (feitas à base de pão e carne), está a cargo da Filarmónica Liberdade Lajense.

“Somos uma filarmónica. Todos os meses temos encargos. É preciso pagar a luz, a água, a internet, a maestrina e isso tudo. E não temos receitas. O evento é uma boa forma de conseguirmos algum dinheiro”, prossegue depois a picarota, ligada há mais de 20 anos à filarmónica, interrompendo o pensamento quando um colega passa com uma bandeja à sua frente.

“Olha, é preciso cortar mais alho. Essa quantidade não vai ser suficiente”, aponta.

O trabalho já começou há vários dias, até porque não se trata apenas de preparar a refeição. Foi necessário carregar mesas e cadeiras para o salão onde os músicos normalmente ensaiam, local que vai acolher o almoço.

As mesas já estão postas e as paredes engalanadas. Só “falta mesmo fazer o altar do Espírito Santo”.

“Isto dá muito trabalho, mas fazemos para ajudar a filarmónica. Depois, este também é um serviço especial. Aqui não há chefes”.

A opinião é prontamente rebatida pelos restantes voluntários: “Somos todos colaboradores, mas ela é a chefe. Eu vim por causa dela. Nós não conseguimos dizer que não à Cristina. Qualquer coisa vamos logo falar com ela”, afirma Laura Neves, perante os risos dos voluntários.

Ao todo, vão ser servidos cerca de 600 quilos de carne nas sopas e 20 quilos de arroz-doce. A equipa que trabalhou ao longo do dia preparou a sobremesa, a carne assada e deixou os ingredientes prontos para as sopas, que vão ser confecionadas por outra equipa de cinco pessoas que vai entrar ao serviço às 03:00 da manhã.

“As pessoas aqui trabalham com muito voluntariado neste tipo de instituições. Quer nas filarmónicas, quer nos impérios que organizam os Espírito Santo. Neste caso, temos um grupo de amigos que se junta neste tipo de trabalhos”, explica Luís Teixeira.

O farmacêutico, natural do continente, mas a viver no Pico há 10 anos, destaca o “acolhimento” das pessoas, visível pelas Festas do Espírito Santo, que são organizadas pela população.

“Lá no continente temos festas tradicionais, mas esta tradição do Espírito Santo é completamente diferente. É uma vivência única aqui dos Açores”.

Noutro espaço, Germana Eiriz, natural de Guimarães, também há 10 anos nos Açores, descasca cebolas. Quando chegou à região “não tinha noção” da “preparação” e da “quantidade de pessoas” que aquelas festas exigiam.

“Vim aqui ajudar na preparação porque estou envolvida na filarmónica. Faço parte dos órgãos sociais, mas estamos aqui como voluntários, pela vontade de ajudar. Para que haja sopas, alguém tem de colaborar. Uns puxam os outros e a coisa anda para a frente”.

À sua frente, Natália Pimentel ficou com a função de descascar alhos. Tem 82 anos e uma vida dedicada a ajudar a filarmónica, onde o seu marido, já falecido, foi músico.

“Já venho há muitos anos ajudar a filarmónica. Eu gosto muito disso. Gosto do convívio que temos aqui. Dá trabalho, mas ainda por cima este motivo é diferente”, admite.

A sessão solene comemorativa do Dia da Região está marcada para as 10:30 de segunda-feira, dia feriado nos Açores, com discursos das forças políticas presentes no parlamento açoriano, do presidente do Governo Regional, do presidente da Assembleia Legislativa e a imposição de insígnias.

Depois, é tempo das “sopas em honra do Divino Espírito Santo”, como consta do programa.

Como refere Cristina Chú, é “um dia importante” e que vai “ficar guardado” na memória de todos: “O movimento é sempre bom para a nossa terra. Trabalhamos por gosto e para toda a gente. Estão todos convidados”.

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