A situação política na Região Autónoma da Madeira é, como já havia escrito anteriormente, muito complexa e delicada, com implicações diretas na consolidação da democracia, bem como na sua qualidade, naquela Região. Historicamente, a Madeira foi governada durante décadas, pelo PSD/Madeira, partido que consolidou uma hegemonia na Região, desde a autonomia administrativa, concedida em 1976, após o 25 de Abril.

Alberto João Jardim, figura central na política madeirense, governou de forma praticamente ininterrupta até 2014, deixando uma marca profunda no modo de governar e na estrutura do poder regional. Desde então, a Madeira tem vivenciado um novo cenário político, sob a batuta de Miguel Albuquerque, que tem enfrentado maiores índices de concorrência e desafios consideráveis à hegemonia do PSD.

A qualidade da democracia na Madeira é, na minha perspetiva, diretamente influenciada por um conjunto de fatores: a longa permanência de um partido no poder, a cultura de clientelismo associada à administração pública regional e a concentração de poderes. Apesar de terem sido implementadas, ao longo dos últimos anos, um conjunto de medias no sentido de aumentar a transparência das políticas regionais, há críticas que apontam para a persistência de hábitos pouco democráticos, que limitam a alternância de poder e dificultam a criação de um espaço político onde a oposição possa efetivamente exercer influência.

A situação política na Madeira parecia relativamente estável até ao anúncio da moção de censura apresentada pelo Chega, com o apoio do Partido Socialista já anunciado. Este posicionamento do PS é relevante, pois representa um claro desafio ao governo de Albuquerque, que enfrenta, por todas as razões já conhecidas, um desgaste político deveras acentuado. O Juntos Pelo Povo tem adotado uma postura mais cautelosa, destacando as críticas ao governo, mas mantendo-se reservado quanto ao seu sentido de voto na moção apresentada pelo Chega. A posição final do JPP será crucial, uma vez que pode definir o sucesso ou fracasso desta moção.

Vamos aos cenários: caso a moção de censura seja aprovada, Miguel Albuquerque poderá enfrentar um quadro de queda de governo. Neste contexto, a sua continuidade no poder dependeria de uma dissolução do parlamento e de novas eleições, o que traria, mais uma vez, uma incerteza política significativa para a Madeira. A oposição, embora fragmentada, teria assim a oportunidade de disputar o poder, todavia, a falta de uma alternativa clara e que seja agregadora, pode dificultar a formação de um governo estável. A falta de um nome consensual faz antever dificuldades no que concerne à alternativa política a Albuquerque.

Mas afinal porque é que Albuquerque não se demite? A resposta é simples. O líder do PSD Madeira acredita que ainda possui uma base de apoio suficiente para resistir às pressões da oposição. Além disso, no contexto interno do PSD, pode querer preservar a estabilidade do partido e evitar uma crise interna. A sua recusa em demitir-se é, também, um reflexo de um estilo político consolidado na Região, onde os líderes vão resistindo a pressões externas, mesmo que isso aumente o desgaste dos elencos governativos.

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