Os Açores foram apontados como pioneiros na adoção de medidas que promovem a utilização sustentável dos recursos marinhos por um grupo internacional de especialistas, entre os quais o investigador português Telmo Morato.
“Os Açores foram (…) apontados como uma região pioneira na implementação de algumas medidas de gestão que, de certa forma, promovem a utilização sustentável dos recursos”, refere em declarações à agência Lusa, o investigador do centro Okeanos, da Universidade dos Açores.
Telmo Morato integra um grupo de cientistas que publicaram os resultados da sua colaboração na “npj Ocean Sustainability”- Nature.
O trabalho redefine o conceito de sustentabilidade das pescas e propõe 11 “regras de ouro”.
Estes cientistas reuniram-se para trabalhar em conjunto durante anos com base na constatação unânime de que a definição atual de ‘pesca sustentável’ “é inadequada e perigosa”.
O cientista português salvaguarda que “muitas dessas 11 regras de ouro, ou quase todas, já estão a ser aplicadas na região dos Açores”, como proibição da pesca de arrasto de fundo, proibida na região desde 2005.
Há também um “grande controlo sobre o número das embarcações e artes de pesca”, sendo que “grande parte dos ecossistemas marinhos vulneráveis já foram identificados” e existe agora um processo em curso visando a sua proteção.
“Os Açores já deram, nas últimas duas décadas, passos muito consistentes para a sustentabilidade dos recursos da pesca”, frisou o investigador.
Os cientistas responsáveis pelo artigo publicado na “npj Ocean Sustainability” – Nature, propõem 11 regras de ouro que “põem radicalmente em causa o conceito inadequado que prevalece atualmente na gestão das pescas”.
Essas regras foram pensadas para “pôr termo à destruição contínua dos oceanos causada pela pesca e para assegurar uma renovação abundante das unidades populacionais de peixes, de modo a alimentar as gerações futuras”.
Surgem no momento em que os cientistas reavaliaram “drasticamente a diminuição da saúde dos oceanos e em que dois terços dos corais do planeta são expostos a temperaturas potencialmente letais”.
Os cientistas instam as empresas, os governos e os legisladores a “pôr em prática essas 11 ações decisivas para restaurar a saúde dos oceanos”.
As regras de ouro baseiam-se em “dois princípios fundamentais que visam revolucionar o futuro da exploração dos oceanos”, um dos quais prevê que a pesca “deve minimizar os impactos nas espécies e nos ecossistemas marinhos, adaptar-se às alterações climáticas e assegurar a regeneração da vida e dos ‘habitats’ marinhos depauperados”
Este grupo de cientistas, por outro lado, defende que a pesca “deve beneficiar a saúde, o bem-estar e a resiliência dos seres humanos e das comunidades (em especial, dos mais vulneráveis)” e não “servir os interesses económicos das empresas, que concentram os lucros nas mãos dos seus proprietários e deixam os cidadãos assumir os custos.
No artigo intitulado “Rethinking sustainability of marine fisheries for a fast-changing planet” (“Repensar a sustentabilidade da pesca marítima num mundo em rápida mutação”), os cientistas preconizam a “necessidade urgente de restabelecer um quadro mundial de gestão da pesca” e denunciam uma “abordagem antiquada da chamada ‘sustentabilidade’”, que “negligencia fatores essenciais de desenvolvimento, humanos e ambientais”.
Pretende-se uma “visão global do futuro da pesca” e um “rumo a uma abundância de unidades populacionais de peixes e ecossistemas próspero”, entre outras medidas.