Na semana passada, o Parlamento Regional registou mais um triste momento, ao aprovar uma resolução, proposta pela extrema direita, para discriminar crianças no acesso à creche, em função da situação de desemprego dos pais. Não estão em causa os direitos dos pais e mães que trabalham. Muito menos está em causa o direito dessas crianças à creche. Em causa estão duas coisas: que a coligação que suporta o governo assume que há crianças de segunda, que têm de pagar pelos supostos pecados dos seus pais; e que a direita nunca se preocupou em garantir o acesso a esta importante valência.

A resolução aprovada nem sequer faz menção à necessidade de mais vagas, para garantir esse direito a todas as crianças! Aliás, o governo regional limitou-se a aumentar as vagas sem assegurar as condições e os recursos humanos necessários. Ou seja, “enfia” 20 crianças onde podiam estar apenas 15. E, mesmo assim, nem todos os pais que trabalham conseguiram vaga para os seus filhos! Algo que não tira o sono a esta gente… Ficam à vista a incapacidade e a falta de vontade para resolver este problema.

Esta discriminação inaceitável deixa mais vulneráveis estas crianças. Na creche, podiam desenvolver aprendizagens importantes, pelas atividades que realizam e pelas interações com outras crianças e adultos. Excluir uma criança da creche é limitá-la nessa importante fase do seu desenvolvimento, condicionando todo o seu futuro. É perpetuar os ciclos da pobreza, já para não falar de outras situações sociais mais dramáticas, que ficarão mais escondidas.

O que tudo isto revela é que os Açores precisam de uma rede pública de creches, como há muito defende o PCP. Certamente que lá virá a crítica habitual, aquela frase estafada do “não há dinheiro”, vinda de quem se habituou a usar mal os dinheiros públicos. Mas esquecem que as creches públicas são uma opção financeiramente melhor e que eles encontram sempre dinheiro para dar mais umas vantagens fiscais milionárias para quem não precisa, tanto no IRC como no IRS,  apenas destinadas aos muito ricos. Ora, contra este tipo de subsídiodependência, a direita e a extrema direita nada têm, pelos vistos, revelando que o seu problema é mesmo falta de humanidade. Quem paga são crianças sem culpa nenhuma.

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