A cientista-astronauta portuguesa Ana Pires acredita que os Açores podem acolher, em breve, missões análogas lunares, como a que liderou na ilha Terceira, em novembro, e cujos resultados deverão ser publicados até 2026.

“Pode ser que, em breve, uma das agências [espaciais] esteja interessada, quem sabe em aprender um bocadinho mais sobre geologia planetária e realizar aqui os seus treinos e aprender mais sobre a geodiversidade que esta ilha fantástica tem, que é agora a nossa casa também”, afirmou, em declarações aos jornalistas, em Angra do Heroísmo, nos Açores, à margem da Glex Summit.

Engenheira geotécnica, investigadora do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e a primeira mulher portuguesa a concluir o curso de cientista-astronauta do programa PoSSUM, Ana Pires liderou a primeira missão análoga lunar em Portugal.

Em novembro, passou seis noites e sete dias na Gruta do Natal, na ilha Terceira, com outros seis astronautas análogos de vários países.

A missão CAMões, que tinha sido anunciada na Glex Summit em Angra do Heroísmo em junho de 2023, foi preparada em quatro meses.

Um ano depois do anúncio, Ana Pires voltou a subir ao palco da cimeira, na mesma cidade, para desvendar um pouco dos segredos que a Gruta do Natal revelou, mas os resultados científicos só serão divulgados após a sua publicação em livro, o que deverá acontecer até meados de 2026.

“Revelou muitos mistérios, fizemos uma caracterização biológica, geológica, geotécnica, a parte mecânica das rochas… Tudo isto vai integrar as nossas publicações científicas. Estamos neste momento a processar todos os dados, a trabalhar em conjunto com todos os membros da equipa, para de facto publicarmos todos os resultados”, avançou.

Não há para já treinos espaciais marcados para a Gruta do Natal ou para qualquer outro local nos Açores, mas a investigadora acredita que a apresentação da missão lunar que decorreu na Terceira, no palco da Glex Summit, com “exploradores de todo o mundo” e astronautas da NASA na plateia pode dar um contributo para que venham a ocorrer.

“Esta missão análoga foi de facto uma oportunidade única de provar que Portugal está mais do que preparado para ter atividades espaciais”, apontou.

Segundo Ana Pires, não só a ilha Terceira, mas outras ilhas açorianas, como Faial, Pico e Santa Maria, têm “locais fantásticos muito similares àquilo que encontramos na Lua e em Marte”.

“Podemos testar tecnologias, fazer ciência e também realizar estas atividades espaciais, estes simulacros onde, de alguma forma, fazemos uma simulação de uma missão, confinados, isolados, a parte comportamental, mais humana, de relacionamento… E isso é muito importante”, salientou.

A missão CAMões vai lançar, em setembro, um documentário, que revela a experiência dos investigadores durante sete dias na Gruta do Natal e mostra como, para além de recolherem dados científicos, criaram música e poesia.

“Ela [a gruta] contou-nos muito, mas também aconteceram muitos sentimentos dentro da gruta, desde arte, música…”, adiantou a comandante da missão.

Durante a missão, os investigadores partilharam, em direto, a experiência, com alunos de várias escolas.

“Mais do que nunca nós vemos os jovens a apostar nestas áreas, na exploração espacial, na engenharia aeroespacial. Como foi fantástico as atividades que fizemos dentro da gruta para estas crianças e ver como os olhos brilham quando dizemos que é possível, que os sonhos se podem concretizar”, sublinhou Ana Pires.

A quinta edição da Glex Exploration Summit, organizada pela Expanding World, com a curadoria do The Explorers Club, de Nova Iorque, decorre, pelo segundo ano consecutivo, em Angra do Heroísmo.

A cimeira, que termina na quarta-feira, conta com 40 oradores convidados e cerca de 120 cientistas e exploradores inscritos.

 

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