A tomada de posse, ocorrida recentemente no Palácio de Belém, ficou marcada pela ausência dos partidos da esquerda mais à esquerda e pela representação, através de Alexandra Leitão – minha Professora na Faculdade de Direito de Lisboa – do Secretário-Geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos. Atenta a inexistência de motivos de força maior, confesso a minha profunda tristeza por tais ausências. A democracia assenta, pelo menos para mim, num valor supremo: o respeito pelos outros. Não marcar presença na tomada de posse do Governo de Portugal é um acto indigno de um representante do Povo. O sábio Povo escolheu, através do voto livre e democrático, o seu futuro próximo. Compete a todos a aceitação do veredito, ainda para mais quando não há qualquer alternativa ao Governo ora empossado.

A falta de comparência demonstra total desrespeito pelo próprio regime democrático. Fica a ideia, que me recuso aceitar, de democratas seletivos. O implícito “só estarei presente se eu ou os meus ganharem” é de um radicalismo doentio. E não augura nada de bom. Já disse e repito: um voto no Chega tem de merecer o mesmo respeito do que um voto no BE. Um voto no PS tem de ser visto com os mesmos olhos do que um voto na IL. Em suma, o meu e o seu voto, por mais divergências que tenhamos quanto ao destinatário desse voto, tem de ser assimilado da mesma forma. Não há votos bons e votos maus. Infelizmente, esta minha premissa básica está por cumprir. Isto porque li, por exemplo, uma nota da Agência Lusa que tinha por base fonte bloquista e que dizia e cito: “tal como aconteceu no passado, o Bloco de Esquerda não estará representado na tomada de posse de um Governo de direita.” De igual modo, fonte comunista explicou “ser prática do PCP há décadas não participar na tomada de posse de governos.” Acontece que em 2015, na posse do primeiro Governo liderado por António Costa, o qual foi impulsionado também pelo PCP, lá estiveram os mais ilustres representantes do Partido. Deixo aqui estes exemplos, mas há mais. Muito mais. O extremismo e o radicalismo, infelizmente, estão disseminados na política portuguesa. O sentido de Estado, o respeito institucional e a política com maiúscula foi chão que já deu uvas. Lamento muito o atual estado da arte e, acima de tudo, temo pelo futuro que se aproxima a passos largos. Estamos a ficar sem filtros. O radicalismo não se combate com radicalismo. Ver o PS embarcar nesta onda deixa-me preocupado. O PS não é, nem nunca foi, um partido de protesto. Para onde caminhas, PS?

PUB