Duas idosas da freguesia do Livramento, em São Miguel, nos Açores, mantêm viva a confeção de bonecas de massa sovada, uma tradição de Páscoa que atravessou gerações mas que corre o risco de desaparecer.
Lúcia Pereira, 71 anos, e Estrela Pereira, 72 anos, são utentes do Centro Integrado de Apoio ao Idoso do Livramento e anualmente são desafiadas pela instituição para confecionarem as bonecas de massa, oferecidas pelos padrinhos e avós na Páscoa.
“Aprendi com a minha mãe. Ela fazia as bonecas e nós andávamos a passear com elas”, relata Lúcia Pereira, à agência Lusa.
Na cozinha do Centro de Apoio ao Idoso do Livramento, Lúcia Pereira assume a liderança da atividade, rodeada de alguidares com a massa previamente preparada.
O forno já não é de lenha, como na sua infância. Mas, os ingredientes não mudam. E o segredo está na massa.
“Dois quilos de farinha, uma dúzia de ovos, meio quilo de açúcar, um copo de óleo, raspa de limão, manteiga e fermento”, descreve Lúcia Pereira, à reportagem da Lusa, dispondo lado a lado várias folhas de inhame (tubérculo) onde as bonecas serão moldadas e colocadas no forno elétrico.
Lúcia Pereira gostava que os mais novos tivessem interesse nesta tradição.
“Agora na padaria é tudo com máquinas. Ninguém quer fazer estas bonecas. Não têm paciência”, assinala.
E mesmo com netos já adultos, Lúcia Pereira faz questão de lhes oferecer pela Páscoa as bonecas de massa.
“Dois quilos de farinha, uma dúzia de ovos, meio quilo de açúcar, um copo de óleo, raspa de limão, manteiga e fermento”, descreve Lúcia Pereira, à reportagem da Lusa, dispondo lado a lado várias folhas de inhame (tubérculo) onde as bonecas serão moldadas e colocadas no forno elétrico.
Lúcia Pereira gostava que os mais novos tivessem interesse nesta tradição.
“Agora na padaria é tudo com máquinas. Ninguém quer fazer estas bonecas. Não têm paciência”, assinala.
E mesmo com netos já adultos, Lúcia Pereira faz questão de lhes oferecer pela Páscoa as bonecas de massa.
“Quem tem rapazinho leva um menino e quem tem raparigas leva uma menina”, explica, pincelando com ovo uma boneca pronta para ser colocada no forno.
Mesmo lado, Estrela prepara-se para decorar as bonecas, após a cozedura da massa.
“Antigamente colocávamos pedaços de tecido para decorar, ora uma saia ou a blusa. O ovo serve para fazer a cara. E desenhamos os olhos. Mas, há também quem coloque botões”, descreve Estrela Pereira.
A utente do Centro de Apoio ao Idoso conta que na sua juventude “eram poucos os recursos” e estas bonecas de massa eram também uma forma de entretenimento.
Filha de pai camponês e mãe doméstica, Estrela Pereira esperava pelo domingo de Páscoa para receber uma boneca.
“Enrolava a boneca num guardanapo branco, tipo uma manta, e depois andava a brincar com as vizinhas na rua”, recorda.
Estrela Pereira reconhece que os jovens da freguesia já não se interessam por esta tradição.
“Aqui no Livramento já pouca gente faz. Já quase ninguém quer aprender. Querem é tudo comprado. Ou querem brincar nos telemóveis”, lamenta.
Tal como Lúcia e Estrela, Isabel Moniz, 64 anos, funcionária do Centro, recorda com saudade as bonecas confecionadas pela mãe.
“A minha mãe fazia sempre duas massas. Uma para os bolos e a outra massa estava reservada para as bonecas. Tinha de ser uma massa mais dura”, explica Isabel Moniz, emocionada.
A funcionária, agora avó, garante que a massa das bonecos “era diferente” e até “especial”, pois “tinha um sabor inigualável”.
“Esta massa ficou sempre na minha memória”, sublinha.
Da mãe herdou também o gosto por cozinhar folares de Páscoa.
“Acho muito bem o centro recriar este hábito, porque a tradição acaba por morrer”, acrescenta.
Denise Cassis é a animadora e responsável no Centro de Apoio ao Idoso do Livramento.
À Lusa, Denise Cassis explica que desconhecia a tradição das bonecas de massa sovada, até ter iniciado funções no Centro.
“Quando vim trabalhar para aqui [Centro de Apoio ao Idoso], falaram-me nas bonecas. Achei interessante e pensei logo: não vamos deixar morrer a tradição. A dona Lúcia ensinou-nos a fazer as bonecas e já é uma tradição”, revela.
Segundo Denise Cassis, o objetivo da instituição “é procurar manter viva a tradição o mais possível”.
“Estamos no Centro durante o dia. Temos atividades programadas e esta [confeção de bonecas de massa] é sempre das primeiras que programo na Páscoa”, garante à Lusa.