Winston Churchill disse um dia que “a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros.” Todos nós, garantidamente, já ouvimos inúmeras vezes esta citação. Acontece que, por vezes, fico na dúvida se muitos dos nossos representantes políticos a subscrevem na integra ou se ficam apenas pela primeira parte da frase. Vem isto a propósito de algumas reações ao veredito saído das urnas no passado dia 10 de março. Leio e ouço coisas que são estranhas. É bom ter presente que estamos a pouco mais de um mês de assinalarmos os 50 anos de Abril. Mas nem esse facto faz com que todos parem para pensar e, acima de tudo, que respeitem o Povo. Já não estamos em 1975 quando Vasco Gonçalves, num discurso pós-eleições, disse (mais palavra, menos palavra) que “a democracia não pode adulterar o que conquistámos com a Liberdade.” Nesta época, o PS era quase fascista e tudo aquilo que estava à sua direita era ultra fascista. Atualmente, isto é, 50 anos depois, o fascismo está, ao que parece, só no Chega.

A esquerda e a extrema esquerda, com honrosas exceções, continuam com a divisão entre bons e maus. Ainda há dias, o secretário-geral do PCP dizia que os cerca de três milhões de votos concentrados na direita constituem um voto “assente na demagogia, na mentira e na ilusão que arrastou e enganou milhares para a falsa ideia de mudança, essa mudança que se exige, mas que não virá, nunca virá pelas mãos do PSD, CDS, Chega e IL.” O BE, a título de justificação da iniciativa por si tomada para uma convergência dos partidos de esquerda, veio a público, através de um vídeo de Mariana Mortágua publicado nas redes sociais, dizer que “Os partidos do campo democrático, os partidos ecologistas, os partidos da esquerda têm obrigação de manter abertas as portas do diálogo e de procurar convergências” e, em seguida, aproveitou para alertar que os resultados obtidos pela AD, bem como a “subida da extrema-direita”, colocam o país “sob o risco de um retrocesso e uma ameaça aos direitos sociais”. O Livre, através do omnipresente Rui Tavares, nos últimos dias de campanha eleitoral, veio dizer-nos, com o seu ar simpático, que “a direita traz más memórias” e que “a governação de esquerda é de boa memória”. Os exemplos da divisão entre bons e maus não ficam por aqui. Aliás, abundam no léxico político partidário. No meio de toda esta infantilização e pobreza argumentativa, temos um País em marcha demasiado lenta. Um País com imensos problemas por resolver. Um País que precisa de respostas para ontem. Um País que precisa de crescer. Um País que precisa de, rapidamente, abandonar o recreio. Em síntese, precisam-se de democratas a sério e, preferencialmente, de meia dúzia de senadores!

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