Ricardo Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo

A elevada taxa de abstenção nas eleições legislativas de domingo em Vila do Porto e Vila Franca do Campo, nos Açores, foi hoje justificada pelos presidentes das câmaras dos dois concelhos pela emigração e pelo desinteresse dos mais novos.

Entre os cinco concelhos do país com maior abstenção nas eleições legislativas de domingo estão quatro municípios açorianos.

De acordo com os dados provisórios divulgados pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, o concelho da Ribeira Grande registou 61,4% de abstenção, Vila Franca do Campo 59,4%, Lagoa 57,3% e Vila do Porto 57,1%, quando a taxa de abstenção no território nacional foi de 33,77%.

Em declarações à Lusa, a presidente da Câmara de Vila do Porto, Bárbara Chaves (PS), admitiu que o valor “não é inédito”, existindo outros atos eleitorais que “infelizmente registaram taxas elevadas de abstenção” na ilha de Santa Maria.

“Há uma perceção [de] que existem muitos emigrantes que, tendo o cartão de cidadão e legitimidade de votar, não estão na ilha de Santa Maria nesta altura”, explicou, considerando estar-se, assim, perante uma “abstenção técnica”.

Por outro lado, acrescentou, “existem muitos jovens que estão a estudar fora [da ilha)]” e, embora alguns tenham recorrido ao voto em mobilidade, “existem muitos outros que não o fizeram”.

“Há um trabalho transversal a toda a comunidade que é preciso fazer, a começar pela própria Câmara Municipal e pelo meio escolar, de forma a incentivar [a] dar a importância ao voto”, defendeu, considerando ser importante, “gradualmente, incutir a necessidade de votar e exercer o dever cívico”.

Bárbara Chaves exemplificou que na escola de Vila do Porto, no âmbito do Orçamento Participativo, “têm sido feitas votações com a urna, com cadernos eleitorais dos alunos e boletins de voto, a par de uma zona reservada para poderem votar, explicando-se que se trata de uma reprodução do que são as eleições para os órgãos de poder”.

Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, Ricardo Rodrigues (PS), também em declarações à Lusa, lamentou que o concelho da ilha de São Miguel ainda registe “valores muito elevados” de abstenção em vários atos eleitorais, embora se verifique uma descida.

Segundo o autarca, uma das justificações é a designada “abstenção técnica”, já que Vila Franca do Campo é um concelho com uma grande predominância de emigrantes, nomeadamente para as Bermudas, Canadá e Estados Unidos da América.

“São situações técnicas, não é uma abstenção voluntária”, observou, indicando que estes emigrantes estão inscritos nos cadernos eleitorais, mas não residem efetivamente no concelho.

Ainda assim, Ricardo Rodrigues garantiu que o município tem apostado em várias ações como forma de mobilizar os estudantes para o exercício do direito de voto, pois há “um desinteresse generalizado por parte da juventude que é preciso combater”.

“Há um desinteresse da juventude pela vida coletiva, o que é preocupante”, reforçou, alertando que os jovens passam muito tempo nos telemóveis e nos jogos interativos.

Nas legislativas anteriores, em 30 de janeiro de 2022, a taxa de abstenção situou-se nos 48,54%, verificando-se já uma participação eleitoral superior à registada nas legislativas de 2019, ano em que a abstenção atingiu o recorde de 51,43%.

A AD conseguiu 79 deputados na Assembleia da República, nas eleições legislativas de domingo, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega com 48 deputados eleitos (18,06%).

A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados. O Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares e ficou com quatro deputados.

Estão ainda por apurar os quatro lugares da emigração na Assembleia da República, que o PS ganhou em 2022, com três mandatos.

 

 

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