A Federação de Pescas dos Açores (FPA) não se conforma com o encerramento temporário do entreposto frigorífico da Horta, numa altura em que a safra do atum já teve início na região, impedindo os armadores de descarregarem o pescado.

“O atum, neste momento, está aqui na zona do grupo central e a maior parte da frota do atum tem de se deslocar de São Miguel para vir para aqui pescar, e depois tem de retornar a Ponta Delgada para descarregar porque o entreposto da Horta está fechado”, denunciou o presidente da FPA, Jorge Gonçalves, aos jornalistas no porto da Horta, na ilha do Faial.

O entreposto frigorífico da Horta esteve encerrado temporariamente em 2022 para obras de remodelação, no valor de 3,6 milhões de euros, mas o piso teve de ser agora substituído por se revelar demasiado escorregadio para os trabalhadores que asseguram o armazenamento de pescado.

“É de lamentar que, por falta de organização do Conselho de Administração da Lotaçor (empresa de lotas dos Açores), não se tenha precavido esta situação”, lamentou Jorge Gonçalves, que diz ter recebido várias reclamações de armadores que pretendiam descarregar atum na Horta, mas não têm espaço para o armazenar.

Segundo a Federação de Pesca dos Açores, os armadores das embarcações de pesca de atum “perdem tempo” e “gastam mais combustível” ao deslocar-se até ao porto de Ponta Delgada, devido ao encerramento do entreposto frigorífico da Horta e devido às obras que decorrem no entreposto da Madalena do Pico.

“No ano passado tínhamos entreposto e não tínhamos pessoal, este ano, não temos entreposto, nem pessoal”, apontou Jorge Gonçalves, lamentando que não tenha existido planeamento na gestão dos equipamentos por parte da Lotaçor.

“É no final das safras que são identificados os problemas a corrigir, para que a safra seguinte esteja a funcionar dentro da normalidade, e não o contrário”, afirmou.

Confrontada com estas críticas, o Conselho de Administração da Lotaçor explica, em comunicado, que as datas para o encerramento do entreposto da Horta foram escolhidas por forma a não interferir com o início da safra do atum que, tradicionalmente, e ao contrário do que aconteceu este ano, só arrancava no início do 2º trimestre do ano.

A empresa que gere as lotas e os entrepostos frigoríficos do arquipélago lembra também que a substituição do piso do novo entreposto frigorífico resulta de anomalias identificadas após as obras de remodelação em 2022, que levaram a acionar a garantia junto do empreiteiro.

“Com vista à boa execução dos trabalhos, o respetivo planeamento obrigou à suspensão da atividade do entreposto a partir do dia 17 de janeiro de 2024, para se proceder à retirada do pescado que aí se encontrava armazenado, por parte dos respetivos proprietários, por forma a permitir a secagem completa dos pavimentos e, consequentemente, a execução da obra”, refere a mesma nota.

A Lotaçor prevê que as obras arranquem ainda esta semana e que tenham um prazo de duração de 15 dias, após o qual “será retomada a operação normal do entreposto”.

Segundo dados do Serviço Regional de Estatísticas, foram capturados em 2023 nos mares dos Açores, e descarregados em lota, cerca de 9,5 toneladas de atum (bonito, patudo e voador), menos 700 toneladas do que no ano anterior, que geraram cerca de 39,3 milhões de euros de receitas, uma redução de 2,7% em relação a 2022.

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