O Movimento Cívico de Agricultores de São Miguel marcou para a próxima quinta-feira uma concentração para transmitir ao setor um ponto de situação das reivindicações, após o protesto de hoje ter terminado sem a prevista entrega de um manifesto.
“Na quinta-feira estaremos aqui para dar informações do que conseguimos”, disse aos jornalistas o porta-voz do grupo, Fernando Mota, no final da marcha lenta de tratores, carrinhas e automóveis conduzidos por agricultores.
O protesto teve início cerca das 10:30 locais (11:30 em Lisboa) junto da sede da Associação de Jovens Agricultores Micaelenses, nos Arrifes (Ponta Delgada) e terminou, depois das 14:30 locais, à porta da Associação Agrícola de São Miguel (em Santana, Rabo de Peixe, concelho da Ribeira Grande).
Dos Arrifes partiu mais de uma centena de viaturas, mas, segundo o representante, durante o percurso foram-se juntando “cerca de 400” à marcha lenta.
Os agricultores tinham inicialmente previsto entregar um manifesto com as suas reivindicações ao presidente da Associação Agrícola de São Miguel e da Federação Agrícola dos Açores, Jorge Rita, mas não chegaram a fazê-lo, alegando que o dirigente não defende a classe e pedindo a demissão do responsável, que se encontrava no exterior do edifício sede.
“Temos um caderno reivindicativo e queremos entregar ao dr. [José Manuel] Bolieiro”, afirmou Fernando Mota, referindo-se ao presidente do Governo Regional e vencedor das legislativas açorianas de domingo.
O porta-voz do movimento cívico defendeu a necessidade de “contratos escritos” e “com a promessa da resolução dos intentos” da classe.
“Aqui precisamos de ação, não de falácias. Estamos fartos de burocracia de todo este sistema”, apontou Fernando Mota, junto à sede da Associação Agrícola, numa altura em que os ânimos chegaram a estar exaltados entre manifestantes e dirigentes associativos.
O objetivo dos protestos, acrescentou, é demonstrar à população a “injustiça” que se vive no setor, com os agricultores “descapitalizados” e “com a corda no pescoço”.
O presidente da Associação Agrícola de São Miguel e da Federação Agrícola dos Açores, que chegou a falar com alguns dos manifestantes, adiantou à agência Lusa não ter nada contra o protesto, do qual só tomou conhecimento “pela comunicação social”.
“Atendendo às dificuldades que o setor atravessa, é legítimo. E, vendo o manifesto, são as mesmas reivindicações, sem exceção, da associação e da federação agrícola”, sublinhou Jorge Rita.
De acordo com o dirigente, “grande parte destas reivindicações foram conseguidas, grande parte foram anunciadas antes do ato eleitoral” de 04 de fevereiro: “E aquilo que fizemos ontem com o Governo foi cimentar o que já estava feito.”
Quanto à demissão do cargo pedida durante o protesto, Jorge Rita sustentou que os sócios “têm toda a legitimidade de colocar esta situação numa assembleia geral”.
“Não há nada que me assuste, nem que me meta medo. Fui legitimado para estar aqui à frente da associação, e não é por manifestações que vou sair”, sublinhou.
No caderno reivindicativo, a que a Lusa teve acesso, os agricultores de São Miguel pedem, entre outras medidas, a prorrogação do prazo das candidaturas “no apoio direto aos jovens para diminuir os sobrecustos de pagamentos à Segurança Social”, “no apoio direto ao sobrecusto do aumento das taxas de juro” e no apoio à transição digital e inovação previstos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para a inclusão de sistemas automáticos de alimentação animal e ordenha.
A descida do imposto sobre os produtos petrolíferos do gasóleo agrícola, a redução do preço das rações, e a aplicação de um sistema Simplex no licenciamento às explorações e na autorização de corte de matas são outras das exigências.
Na quarta-feira, o Governo Regional anunciou ter acordado com a federação “o apoio direto aos jovens agricultores na diminuição dos pagamentos à Segurança Social e apoios a todos os agricultores referentes ao aumento das taxas de juro”.
Do encontro saiu “o compromisso do executivo em continuar a apoiar o adiantamento dos apoios comunitários relativos ao prémio dos produtos lácteos”.
“Permanece em vigor o apoio à compra de sementes de milho ou de sorgo, a aplicação de reformas antecipadas e é para manter a continuidade do fim dos rateios, ao contrário do que acontece na República, medida que veio garantir mais rendimento aos agricultores açorianos”, adianta a nota de imprensa.