Cientistas de vários países, incluindo da Universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), estão na ilha Terceira, nos Açores, para partilhar conhecimentos sobre a observação da terra com a linguagem de programação Julia.
“É o único evento mundial dedicado à observação da terra em Julia. Por isso há uma adesão muito grande. Temos uma sala de 44 pessoas e não tem capacidade para mais, mas havia interesse. E ‘online’ temos cerca de 200 pessoas. Isso dá uma projeção muito grande aos Açores”, adiantou, em declarações à Lusa, o responsável pela organização do encontro, João Pinelo, diretor de ciência de dados, computação e desenvolvimento de ‘software’ no Air Centre.
Sedeado no Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira (Terinov), o Centro Internacional de Investigação para o Atlântico (Air Centre) envolve parceiros de 14 países em projetos de investigação nas áreas do espaço, atmosfera, oceano, clima, energia e ciências dos dados.
O evento, realizado pelo segundo ano consecutivo, foca-se na linguagem de programação Julia, criada há cerca de 10 anos no MIT, nos Estados Unidos da América, que, segundo João Pinelo, “pode ser extremamente útil para observação da terra”.
“Somos o ponto de encontro desta rede de observação da terra para Júlia a nível mundial. É uma linguagem que está em desenvolvimento e o nosso objetivo é fazer parte desse desenvolvimento”, frisou.
Alguns dos maiores especialistas nesta linguagem participam no encontro, que termina na sexta-feira com um ‘hackathon’ (maratona de programação), para encontrar soluções para um “problema de modelação complexo” levantado num doutoramento na Universidade dos Açores.
“Nós convidámos um professor do MIT, especialista em matemática, em Julia e em ‘machine learning’, precisamente para dar apoio e estimular a nossa criatividade, a ver se arranjamos uma solução melhor do que aquela que temos até agora”, revelou João Pinelo.
Na primeira edição, os participantes detetaram uma lacuna na linguagem de programação Julia e, em conjunto, encontraram uma solução e apresentaram uma versão básica de projeto, já a funcionar fisicamente.
“Quando queremos representar dados sobre um mapa, convém termos um mapa base onde os nossos dados são projetados, para que haja referências espaciais, para que a pessoa ao ler o mapa perceba onde são os dados. Isso não existia para Julia. Os participantes o ano passado espontaneamente desenvolveram isso”, lembrou o diretor de ciência de dados.
Este ano, o encontro deu início a um projeto do Air Centre com as Nações Unidos para levar ‘workshops’ de capacitação em observação da terra ao Brasil e à África do Sul.
“O objetivo é ajudar os cientistas e os técnicos a usar Júlia”, explicou o responsável pela organização.
Segundo João Pinelo, esta linguagem é muito importante, porque é acessível e rápida, podendo ser utilizada pelos próprios cientistas.
“O cientista desenvolve um protótipo e depois chega a uma empresa com muitos programadores, transforma em outras linguagens, reescreve tudo e depois funciona muito bem, mas muitas vezes é preciso voltar atrás e refazer. Tudo isto é um processo que demora muito tempo e é muito caro. [A linguagem] Julia permite que o cientista faça tudo até ao consumidor final”, explicou.
Para além da equipa do Air Centre e de investigadores das universidades dos Açores e do Algarve, participam cientistas de universidades dos Estados Unidos, da Bélgica, da Dinamarca, da Polónia e do Brasil.
Estão também presentes representantes das Nações Unidas, da agência espacial portuguesa e da agência espacial sul-africana, entre outras organizações e empresas.
Entre as principais áreas representadas estão biologia, meteorologia, modelagem oceânica, computação, engenharia aeroespacial e robótica marítima.