Foto: Solvit

Uma empresa sedeada na ilha Terceira, nos Açores, desenvolveu uma tecnologia que permite avaliar a cobertura e velocidade das redes de comunicação em tempo real e concluiu que há valores na região abaixo do anunciado.

“Se nós formos confrontar aquilo que medimos com aquilo que está publicado no site da ANACOM [Autoridade Nacional de Comunicações], no nível da disponibilidade das redes na Terceira há uma discrepância enorme”, disse hoje Nuno Cota, sócio fundador da Solvit, na apresentação dos primeiros resultados do projeto Tour Signal, em Angra do Heroísmo.

O projeto avaliou as comunicações nas principais estradas da ilha Terceira e nas ligações marítimas entre as ilhas do grupo central dos Açores, para perceber se respondiam às expectativas dos turistas.

Na ilha Terceira, o estudo concluiu que, na média das três operadoras, 90,47% da ilha tinha uma “cobertura aceitável” e 9,53% uma “cobertura má ou inexistente”.

O trabalho conclui ainda que a rede 5G só chega a 8% da ilha, concentrada sobretudo nas duas cidades, a 4G abrange 84% do território, a 3G abrange 5% e a 2G 3%.

Também os ritmos de transmissão são “muito baixos, quando comparados com o anunciado”, ficando “abaixo dos 10 mebabits por segundo” em cerca de 35% das zonas.

Já no mar, a cobertura das rotas entre as ilhas do grupo central foi “quase total”, mas “75% das rotas” apresentavam ritmos abaixo de um megabit por segundo.

“A cobertura ainda está muito aquém da expectativa atual dos turistas, em termos de capacidade, de ritmos de transmissão. Mesmo a tecnologia 5G, que verdadeiramente traz uma capacidade diferente, ainda não está disponível em toda a ilha e ainda há zonas da ilha, que são eixos fundamentais, frequentadas pelos turistas, que não têm qualquer rede”, alertou Nuno Cota, em declarações à Lusa.

A tecnologia, com “custos 10 vezes inferiores a outros equipamentos que existem no mercado”, avalia os três operadores de comunicações disponíveis e as redes de emergência, através de equipamentos que são instalados em viaturas ou navios, que estão “permanentemente a fazer a aquisição de tudo quanto está no espetro rádio”.

Desenvolvido na Solvit, instalada no Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira (Terinov), este equipamento pode ser aplicado em qualquer parte do país.

“Está disponível para qualquer entidade, quer seja uma entidade pública governamental, que queira aferir a cobertura para tomar decisões, para fazer pressão junto dos operadores, quer sejam os próprios operadores que queiram em tempo real saber o estado da sua rede”, apontou Nuno Cota.

O projeto avaliou também a importância que os turistas dão às comunicações nos Açores, através de um inquérito elaborado pela empresa Fundo de Maneio, que concluiu que 47,3% dos inquiridos utilizam o ‘smartphone’ mais do que uma vez por hora e 20,9% pelo menos uma vez por hora.

“Não dispensam aceder à internet, à possibilidade de mandar mensagens ou realizar chamadas. Isso é transversal, quer ao nível dos turistas nacionais, quer ao nível dos turistas internacionais”, revelou Gualter Couto, da Fundo de Maneio.

O consultor sublinhou que os turistas já não utilizam a internet apenas para relatar a experiência ou comunicar com os amigos e família, mas também para “procurar um restaurante ou uma atividade turística”.

“A maioria esmagadora dos turistas inclusivamente mete em causa fazer determinadas experiências se não tiver acesso a redes de emergência”, frisou.

Os Açores não estão “num momento zero”, mas ainda têm “um longo caminho a percorrer” e devem “acelerar o passo do uso disseminado das tecnologias”, defendeu Gualter Couto.

“Temos de continuar a investir na tecnologia, não só a nível público, mas também a nível privado, no alojamento, nos restaurantes, nas empresas de animação turística, que têm de ter noção de que é cada vez mais importante disponibilizarem na internet os seus serviços, porque vão ser cada vez mais procurados através da internet”, explicou.

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