Há uma semana, a CGTP afirmou a necessidade do aumento geral dos salários, defendendo que, no momento atual, este aumento deve ser, no mínimo, de 150€ ou de 15%. Propor um aumento de salários de 150 € poderá parecer uma fantasia, fora da realidade. Mas não é assim. Esta proposta foi sustentada no conhecimento da realidade económica e social – tanto do continente, como dos Açores e da Madeira.

O diagnóstico da realidade é muito duro, em particular entre os trabalhadores. Temos cerca de 2 milhões de pobres ou em risco de pobreza. Destes, perto de 700 mil são trabalhadores, com famílias, e que têm de receber apoios sociais, como o rendimento social de inserção, para sobreviverem e suportarem as despesas básicas. Apenas neste século, o poder de compra dos salários reduziu-se em 20%. Muitos dos que tinham um salário confortável viram-se, de um momento para o outro, a fazer sacrifícios. Nos Açores, a realidade é ainda mais dramática.

Não é de números de que falo. É de pessoas, muitas são crianças. É de trabalhadores e de pensionistas que, tendo emprego ou tendo trabalhado toda a sua vida, viram-se obrigados a fazer contas à vida. Outros tiveram de vender a casa ou cortar em despesas básicas. À medida que fiz esta descrição, muitos ter-se-ão visto a si próprios, ou a amigos, familiares e conhecidos, que não fizeram nada que justificasse a sua situação atual. Mas, ao mesmo tempo, no outro lado da balança, a riqueza acumula-se. A banca lucra 11 milhões por dia. Vou repetir, porque o número é surreal: 11 milhões por dia, conseguidos à nossa custa, em grande parte com o aumento das prestações da casa. E este não é caso único, já que os lucros das grandes empresas nunca foram tão elevados. É este o diagnóstico da realidade que sustentou a posição assumida, de forma corajosa, pela CGTP.

Seria de esperar que a generalidade dos partidos políticos, tão preocupada em garantir tempo de antena, viesse a público sobre isto. Mas não. As únicas palavras saíram do PCP – e deixo a cada um o desafio de procurar, nas páginas dos vários partidos políticos, uma palavra que seja sobre a necessidade de aumentar salários.

O secretário geral do PCP, Paulo Raimundo, assumiu que “a grande emergência nacional, [é] o aumento geral e significativo dos salários.” e que este é um “aumento necessário, urgente e mais que justo, a partir da realidade da vida dos trabalhadores, das suas necessidades e de uma mais justa distribuição da riqueza criada.” O mesmo foi feito pela bancada comunista na Assembleia da República, com propostas já apresentadas.

Entretanto, a direita e a extrema direita continuaram com o seu discurso habitual sobre o excesso de impostos, esquecendo-se sempre de referir que a grande injustiça fiscal está nos muitos e enormes benefícios fiscais que são privilégio exclusivo dos muito grandes, das grandes empresas. Neste cenário, o maior peso dos impostos cobrados cai, precisamente, sobre os trabalhadores e as micro, pequenas e médias empresas. E, já agora, poderá ser útil recordar que foi esta mesma direita que, em julho, votou ao lado do PS para recusar a proposta do PCP de redução de impostos a quem trabalha…

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