Vítor Casimiro foi o primeiro recuperador-salvador da Força Aérea portuguesa a atingir 3.000 horas de voo nos helicópteros EH-101 Merlin e as missões mais desafiantes em que participou foram realizadas nos Açores.
“Isto é o cenário ideal para a busca e salvamento, porque aqui é desafiante todos os dias. As condições meteorológicas são muito adversas e parece que no local onde vamos fazer o salvamento é sempre o pior sítio”, conta, em declarações à Lusa.
É na Esquadra 752 – “Fénix”, na Base Aérea número 4, na ilha Terceira, que encontramos o sargento-chefe Casimiro.
No corredor que nos conduz às diferentes salas onde se preparam as missões em terra, a parede está coberta de coletes salva-vidas.
Cada um conta uma história de um salvamento ao largo dos Açores e, em muitos, é possível ler o nome de Vítor Casimiro.
Em 19 anos, o recuperador-salvador participou em 538 missões operacionais, incluindo 272 “evacuações aeromédicas” e 105 missões de busca e salvamento, muitas delas realizadas nos Açores.
A vida de Vítor Casimiro cruzou-se com o arquipélago logo no início da carreira, mas só em janeiro foi colocado a tempo inteiro na BA4.
Natural de Bragança, escolheu a Força Aérea para cumprir o serviço militar obrigatório, pelo fascínio que tinha pelos aviões e helicópteros.
Foi nos cinco anos em que esteve colocado nos Açores que decidiu prosseguir a carreira militar como recuperador-salvador, influenciado pelas muitas histórias que ouvia de quem saía em missão para salvar vidas.
Participou no primeiro curso de recuperadores-salvadores para os EH-101 Merlin, em 2006, e foi colocado no Montijo, mas o tempo era dividido entre o continente, a Madeira e os Açores, onde fazia destacamentos de 15 dias.
Há uma semana, Vítor Casimiro completou 3.000 horas de voo a bordo dos Merlin, num resgate de um pescador com um AVC a bordo de um pesqueiro ao largo da ilha do Faial.
“Nós recuperámos a pessoa na embarcação, deixámo-la no Faial, passámos diretamente para o avião e o avião foi levá-la a São Miguel. Tudo muito rápido e muito coordenado. É bom trabalhar num ambiente assim, porque está tudo oleado”, revela.
Em pleno mês de agosto, com mar calmo, a missão decorreu sem grande dificuldade, mas nem sempre é assim nos Açores.
“Há muitos salvamentos com ondulação de 10 metros, que é uma coisa absurda. Vamos tentar entrar numa embarcação – quanto mais pequena pior – e temos ondulação de 10 metros, ou seja, o barco está em baixo e de repente está em cima”, explica o sargento-chefe.
Foi num resgate com estas condições meteorológicas que Vítor Casimiro fraturou um pé, ao entrar num pesqueiro, mas sendo o único recuperador a bordo não podia abandonar a missão.
“Só me apercebi quando me tentei levantar e vi que o pé estava virado para trás. Eu não tinha dores. A adrenalina é tanta naquele momento que a gente não sente. Não conseguia trabalhar de pé, coloquei-me de joelhos, coloquei o equipamento no homem e viemos embora”, lembra.
Foi operado duas vezes, passou dois meses no hospital e quatro a fazer fisioterapia, mas com o foco no regresso.
Desistir nunca foi uma opção e, aos 50 anos, Vítor Casimiro evita pensar no dia em que as condições físicas o obriguem a deixar as missões.
“Eu adoro o que faço. Uma pessoa parece que nunca está cansada. Depois de tantas horas, no dia seguinte está disponível outra vez, porque é um gosto fazer isto”, sublinha.
“É muito gratificante o agradecimento das pessoas. Já tive pessoas que me abraçaram, pessoas que ficam a chorar a olhar para nós”, acrescenta.
Muitas vezes é só quando regressam a terra e visualizam as imagens capturadas que se apercebem da dificuldade da missão.
“Estamos tão habituados a fazer este tipo de missões que pensamos que afinal não foi tão difícil, mas quando chegamos aqui é que vemos que arriscamos”, admite o sargento-chefe.
A área de intervenção nos Açores é muito vasta e há missões com cerca de sete horas de voo.
Em 2015, vários veleiros foram apanhados por uma tempestade ao largo dos Açores. Apenas o Kolibri estava ao alcance da Força Aérea Portuguesa, mas já no limite máximo possível, a 350 milhas da ilha das Flores.
A bordo do veleiro, que virou duas ou três vezes com a ondulação, que chegou a atingir 12 a 15 metros, estavam quatro noruegueses.
“Aí é que eu vejo que as pessoas confiam muito em nós. Estava ondulação de 10 metros quando lá chegámos. O veleiro andava para cima e para baixo. Eu pendurava-me e quando chegava perto da embarcação pedia a um deles para saltar, saltava, eu ia para a água, recuperava-o e foi assim até à última”, recorda Vítor Casimiro.
O EH-101 Merlin teve de abastecer na ilha das Flores, no máximo permitido para que conseguisse descolar, e regressou “no limite do combustível”, mas aterrou em segurança.
Nas paredes da esquadra 752 há muitas histórias com final feliz, mas nem sempre as equipas conseguem chegar a tempo.
“Isto ultrapassa-se com a próxima missão. Entre nós não deixamos ninguém ir abaixo. Vamos embora e na próxima missão vai correr tudo bem e vamos salvar uma vida”, reforça Vítor Casimiro.
Criada em 2023, a esquadra 752 tem poucos meios humanos para a quantidade de missões. Há apenas um piloto-comandante e, por vezes, são precisos reforços do Montijo.
“Temos a esperança de que a esquadra um dia vai ser gigante e eu acredito que as pessoas que vêm para aqui acabam por construir aqui a sua vida e ficar mais anos do que é o expectável”, aponta o sargento-chefe.
Desde 2012 que Vítor Casimiro ajuda a formar novos recuperadores-salvadores, que espera virem a reforçar a esquadra dos Açores.
“É gratificante vê-los trabalhar. Tenho uma confiança enorme no trabalho deles, porque sei que eles estão preparados para isso, porque se não estivessem, não iam acabar o curso”, salienta.