O Médio Oriente voltou esta semana a ser o epicentro de uma crise internacional com contornos cada vez menos previsíveis. O confronto entre Israel e o Irão, desencadeado por uma troca de ataques sem precedentes, marca um ponto de rutura na geopolítica regional. Mais do que o choque entre dois inimigos históricos, o que realmente transforma este conflito é a participação ativa dos EUA. Ao envolver-se militarmente, os EUA deixam claro que estão dispostos a intervir, custe o que custar, para funcionarem como a “polícia do mundo”. A Europa, por sua vez, assiste ao desenrolar dos acontecimentos com a impotência de quem perdeu, há algum tempo, peso negocial e estratégico no panorama geopolítico internacional.
A decisão americana de intervir, através do envio de meios militares representa o fim da passividade da administração de Trump na resolução de conflitos internacionais. Por outro lado, este passo não só legitima uma resposta mais agressiva de Israel mas também alimenta a radicalização do Irão e o aproximar estratégico entre Teerão, Moscovo e Pequim. A internacionalização do conflito é, neste momento, um risco real e cada vez mais palpável.
Com o regresso de Trump à Casa Branca, esta não é apenas uma decisão tática mas sim profundamente ideológica. É o regresso de uma doutrina de força, de alianças baseadas em lealdades geoestratégicas. Para Trump, este conflito é uma excelente oportunidade para reafirmar o domínio americano e projetar autoridade num cenário de guerra cada vez mais global. Os EUA estão de volta ao “jogo”, mas na qualidade de jogador e não de árbitro.
Tudo isto acontece numa altura em que me parece que a União Europeia está claramente dividida no que concerne a uma visão geoestratégica e onde falta um pensamento geopolítico unificado. A Europa continua a ser um ator de segunda linha. Baseia a sua intervenção no diálogo, nas condenações vagas, e na falta de definição de uma linha de atuação, pelo que procura justificar a sua inação com uma prudência que se assemelha perigosamente à resignação.
Se a Europa não acordar, pode ficar espartilhada entre potências em confronto, sem qualquer capacidade de influência nem margem de manobra.
O mundo mudou e nós continuamos, serenamente, apenas a assistir.