O futsal feminino nos Açores, particularmente na ilha de São Miguel, tem vivido uma trajetória marcada por altos e baixos desde a sua implementação oficial em 2008-2009. A inscrição de 48 jogadoras e três clubes seniores (Atalhada FC, CD Santa Clara e FC Vale Formoso) nesse arranque foi um marco pioneiro e esperançoso. Em 2022-2023, o número de atletas atingiu um recorde de 217, com clubes em todos os escalões. Este crescimento refletiu não só o entusiasmo gerado, mas também o trabalho de base feito pelos clubese pela Associação de Futebol de Ponta Delgada (AFPD).

Contudo, a presente época trouxe sinais de alerta com uma redução da participação feminina. Ainda assim, houve uma lufada de ar fresco com a entrada direta do Clube Ana de Santa Maria no campeonato de São Miguel. Esta inclusão mostra que, apesar das adversidades, há ainda vontade de apostar no feminino. A AFPD deve continuar a incentivar, pois é fundamental para consolidar a modalidade e fomentar a competitividade.

O CD Santa Clara sagrou-se campeão da AFPD, mas a ausência do Campeonato Regional impediu a sua presença na Taça Nacional. Esta situação levanta uma questão pertinente: será que o número de atletas femininas em outras ilhas é insuficiente, ou estas têm sido redirecionadas para o futebol com incentivosfinanceiros da F.P.F.? Independentemente da resposta, fica evidente a necessidade de um plano de desenvolvimento regional articulado que garanta igualdade de oportunidades e continuidade competitiva entre as associações insulares.

A qualidade das jogadoras micaelenses e marianenses é inegável. Casos como o de Alexandra Melo, que rumou ao Benfica, e Sofia Melim Santos, observada pelo mesmo clube, são exemplos vivos de talento que ultrapassa fronteiras insulares. Mariana Costa, com exibições destacadas ao serviço do GDCP Livramento, também representa a excelência local. A performance da seleção Sub-17 da AFPD, invicta no Interassociações, confirma que há qualidade a desabrocharem São Miguel e Santa Maria – só precisa de terreno fértil para florescer.

O trabalho dos clubes como o GDCP Livramento (sub 19) e o CD Santa Clara (Seniores) mostra que, mesmo com recursos limitados, é possível sonhar e competir com dignidade. A dedicação de treinadoras como Tânia Pipa do GDCP Livramento e da dirigente Nélia Barreiro do Santa Clara é prova de que o futsal feminino vive também da paixão e do esforço de quem acredita no projeto. Mas, sem apoio institucional sólido, estes esforços podem facilmente ser em vão.

Por fim, é preocupante o tratamento desigual dado ao futsal quando comparado com o futebol. A saída do treinador Delfim Pereira do Gabinete Técnico evidencia instabilidade e falta de visão. A direção da AFPD não pode continuar a ignorar a importância estratégica do futsal, especialmente quando este já provou que pode dar frutos. Se queremos igualdade de género e crescimento sustentado no desporto, é preciso começar pela estrutura – e dar ao futsal o lugar que merece.

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