O livro “Rabo de Peixe” promete “toda a verdade” sobre a droga que deu à costa em São Miguel, em 2001, com entrevistas a “todos os protagonistas” de uma “realidade mais dura do que a ficção” da Netflix.
“Este trabalho não é um romance. Não é uma obra de ficção, mas sim uma obra que procura mostrar a complexidade da história, com todos os seus lados sombrios. Há uma componente de investigação, de viagens, de encontros, que enriquecem o relato”, explica, em declarações à agência Lusa, o autor Rúben Pacheco Correia.
O livro, que vai ser apresentado hoje às 21:00 locais na Igreja de Rabo de Peixe, resultou de uma investigação de dois anos e conta com entrevistas a “todos os protagonistas” envolvidos no naufrágio de um barco que trouxe até São Miguel mais de 700 quilos de cocaína, em 2001.
“Descobri histórias incríveis que demonstram que a realidade, afinal, é bem mais dura do que a ficção”, garante o autor.
Entre os testemunhos está o do traficante de droga italiano Antonino Quinci que andou “desaparecido durante mais de vinte anos”, e que se encontra preso no Brasil, assim como dos homens que o ajudaram a fugir da prisão de Ponta Delgada e a manter-se escondido das autoridades.
“Contratei um detetive privado para tentar encontrar Antonino Quinci. Fui seguindo algumas pistas que me levaram até à Sicília, onde entrevistei membros da família criminosa que trouxe a cocaína até aos Açores, e mais tarde até ao Brasil, onde entrevistei, na prisão, o protagonista de toda esta história”, revela.
Rúben Correia desvenda algumas “revelações” do livro que permitem perceber a “complexidade” do incidente, como o facto de a droga pertencer a um quartel da Colômbia e ter “ligações a um atentado à bomba em Lisboa”.
“Vito Quinci, sobrinho de Antonino que veio ajudar o tio a São Miguel, em 2001, tinha sido sequestrado com a sua esposa por um cartel da Colômbia donos da droga transportada por Antonino, enquanto o italiano não aparecesse”, exemplifica.
O escritor realça que o livro “não é uma ode ao crime”, mas sim um “alerta”, não apenas para uma situação que “contribuiu para o fim de vida de muita gente”, como, também, para um problema de estupefacientes que continua a ser um flagelo em São Miguel.
Natural de Rabo de Peixe, Rúben Pacheco Correia revela ter crescido com um “estigma” associado à sua terra que “não corresponde à realidade”, uma situação que diz ter sido agravada pela série da Netflix inspirada no desembarque da droga.
Para o autor, a série “Rabo de Peixe”, que foi um sucesso internacional, “colocou o nome de uma comunidade em jogo” ao não separar a realidade da ficção, tornando-se “legitimo o espectador pensar que toda a história é inspirada em acontecimentos reais”.
“De certa forma revoltado com isso, decidi iniciar a investigação à volta do único acontecimento que a série se inspirou de verdade: a droga que deu à costa um pouco por toda a ilha de São Miguel. Reforço a ideia ‘por toda a ilha’”.
Rúben Correia considera que a freguesia foi “injustamente associada” ao caso da droga até porque o traficante “só aportou por menos de 24 horas em Rabo de Peixe, depois de ter escondido a cocaína ao longo da costa norte” da ilha.
“Este é um trabalho que tenta dignificar o nome de Rabo de Peixe e limpar o seu nome”, reforça.
Na quarta-feira, durante a apresentação do livro em Lisboa, foi anunciado que vai dar origem a um documentário na TVI.
Rúben Correia avança, também, que rejeitou as propostas da plataforma Netflix para a compra do contrato de exclusividade que firmou com Antonino Quinci: “Quero ser eu a contar a história. Sou de Rabo de Peixe e quero dar a dignidade à minha terra que ela merece”.
A obra “Rabo de Peixe – Toda a Verdade” também vai ser apresentada em Gaia a 16 de maio.