O presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (CCIAH), nos Açores, Marcos Couto, reivindicou hoje uma melhoria das ligações marítimas de mercadorias à ilha Terceira, alegando que os empresários têm tido prejuízos consideráveis.
“Não é aceitável que em pleno século XXI as prateleiras dos supermercados da ilha Terceira não tenham produtos, que as empresas da ilha Terceira não consigam exportar e importar produtos, que as empresas da ilha Terceira que dependem do mercado interno não consigam fazer com que os seus produtos cheguem às outras ilhas. Não é admissível que tenhamos um claríssimo prejuízo”, afirmou o presidente da CCIAH, Marcos Couto, numa conferência de imprensa em Angra do Heroísmo.
Há vários anos que a associação empresarial das ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa alerta para as dificuldades sentidas pelos empresários no transporte de mercadorias por via marítima, mas segundo Marcos Couto, “nos últimos meses a situação tem vindo a agudizar-se de forma dramática”, chegando a existir “rotura de stock de vários produtos na ilha”.
A Terceira tem ligações marítimas diretas semanais com o continente, mas a imprevisibilidade das datas dos toques no porto da Praia da Vitória tem provocado constrangimentos nas importações e nas exportações.
“Chegamos a ter mais de 20 alterações às escalas previstas durante um mês. A imprevisibilidade é total”, frisou Marcos Couto.
Os empresários têm alertado o Governo Regional, que responde que tem reunido frequentemente com o Instituto e a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes para melhorar a situação, mas os problemas persistem.
“Por uma razão ou por outra, há sempre uma justificação para os atrasos que acontecem, ou é mau tempo ou o navio está em doca seca, ou o navio avariou. Eu entendo as justificações todas, o que eu não posso é continuar de braços cruzados quando os nossos associados são prejudicados da forma como têm sido ao longo destes últimos anos. Não é possível continuar por mais tempo. Tem de se arranjar uma solução”, salientou.
Uma das hipóteses levantadas pelo presidente da CCIAH para resolver o problema é o lançamento de um concurso público internacional para a prestação do serviço.
“Definam-se os toques, as obrigações, quanto custa. Indemniza-se quem tem de fazer o serviço e cria-se previsibilidade e frequência”, propôs.
Há cerca de três anos, a Terceira deixou de ter também ligações marítimas com carga contentorizada para as ilhas do grupo central, o que tem condicionado o mercado interno, por exemplo, na comercialização de carne.
“Sentimos que a ilha Terceira nos últimos anos tem sido alvo de um estrangulamento económico sem precedentes, em que deixamos de ter ligações de carga contentorizada às restantes ilhas do grupo central, com enorme penalização para o setor muito específico da carne, onde a ilha deixou de ter acesso a carne proveniente das outras ilhas”, apontou o presidente da CCIAH.
Sem revelar valores, Marcos Couto disse que os prejuízos são consideráveis e que os números têm sido remetidos à tutela dos Transportes.
Segundo os empresários, o atraso da chegada dos navios provoca, em algumas situações, a redução do valor de produtos frescos e há mesmo relatos de perda de produtos perecíveis, como iogurtes, que já chegam no limite do prazo de validade.
No caso dos produtos perecíveis, a chegada dos navios à sexta-feira ao final do dia obriga também a custos logísticos acrescidos para as empresas, que se veem obrigadas a pagar horas extraordinárias aos funcionários ao fim de semana.
“Desta forma nunca irá ser possível a economia dos Açores crescer, nunca irá ser possível a economia da ilha Terceira e do grupo central crescer, porque os prejuízos têm sido muito consideráveis”, sublinhou Marcos Couto.