Vai longa a troca de argumentos com o eng. João Mota Vieira sobre a relação entre o aumento da mortalidade em S. Miguel e “as decisões tomadas após o incêndio no HDES”.

Note-se o despudor da conclusão. Não são os constrangimentos resultantes do incêndio – deslocação de doentes para outras unidades de saúde, até mesmo para fora da Região, redução de instalações, dispersão de pessoal, entre outros – mas as decisões políticas que levaram a um aumento do número de óbitos. É evidente o objetivo da conclusão,repito, precipitada, alarmante e não fundamentada.

Ademais, é o próprio quem afirma que “qualquer correlação só poderá ser aferida mediante estudos epidemiológicos, conduzidos por técnicos e médicos especialistas em saúde pública”. Em que ficamos?

Diz o eng. João Mota Vieira que se limitou a responder a uma pergunta aprovada na Comissão Parlamentar de Inquérito. Nada mais falso: a comissão reuniu no dia 25 de fevereiro, dois dias depois da produção do seu texto,no qual faz a dita correlação.

Insisto. Em 2022 houve mais óbitos em S. Miguel do que no ano do incêndio. Qual a explicação? Mesmo considerando um eventual impacto da pandemia (6,2%), continuamos a ter mais mortalidade naquele ano.

Alega o Sr. Eng. que “é evidente o [meu ]empenho desesperado (…) em defender, a todo o custo, as decisões governamentais pós-incêndio no HDES”. Entendamo-nos. Em momento algum tenho desesperos desta ou de outra natureza. Tenho, sim, convicções, que não escondo. Tão pouco me refugio num putativo segredo profissional. E não invoco o direito à imunidade parlamentar. Assumo sempre o que faço e digo. Julgo que o eng. João Mota Vieira percebe o que digo nas entrelinhas…

Não estou sozinho na rejeição da correlação entre o aumento da mortalidade e a opções políticas pós-incêndio. A Ordem dos Médicos e a Ordem dos Enfermeiros, com a competência técnica e deontológica que lhe são próprias, afirmam o mesmo.Portanto, quem está orgulhosamente só na sua posição?

Numa coisa o eng. João Mota Vieira tem razão: o incêndio no HDES provocou (ainda hoje provoca) constrangimentos na atividade e assistência médica, mormente ao nível de consultas e cirurgias. Só por insensatez seria expetável esperar consequência diferente de um acidente desta natureza e gravidade, sem precedentes em Portugal.

Ponto final.

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