Quando Bergoglio apareceu, pela primeira vez, na varanda da Basílica de São Pedro, o mundo percebeu imediatamente que se tratava de alguém diferente. O olhar e postura humildes deixaram claro que algo mudava naquele momento. Ali nascia o pontificado do Papa Francisco, o primeiro papa latino-americano, o primeiro papa jesuíta e também o primeiro a escolher o nome de Francisco de Assis. Um nome simples, carregado de significado.

Desde então, o Papa foi uma das vozes mais escutadas, mais admiradas e mais respeitadas no panorama mundial. Ao longo dos últimos anos, Francisco construiu uma liderança marcada pela simplicidade, pela compaixão e por uma atenção permanente aos marginalizados pela sociedade. Num tempo de crise de confiança nas instituições, num tempo marcado por enormes clivagens sociais, religiosas e políticas, o Papa foi uma figura de união, um rosto de proximidade, de carinho e simpatia.

Papa Francisco 1936 – 2025

O Papa Francisco trouxe para a Igreja um modo de estar profundamente diferente. Modificou, de uma forma desconcertante, o modo como se passou a olhar para o cargo mais alto da Igreja Católica. Essa marca, nunca irá desaparecer. Ao longo do seu pontificado, tornou-se conhecido pelos seus gestos simples mas marcadamente simbólicos: recusou luxos, vivia numa residência modesta, fazia telefonemas a quem lhe escrevia…mais do que palavras, foram as atitudes que revelaram uma forma de estar completamente singular no mundo e na fé.

A sua preocupação com os migrantes, com os pobres, com os doentes e com os idosos nunca foi apenas retórica. Conseguiu chamar a atenção, de forma repetida, para as injustiças do mundo atual, para o sofrimento, para a fome. A sua voz tornou-se uma referência moral que ultrapassa largamente o universo católico, sendo escutada com atenção pelos principais atores políticos mundiais, por organizações internacionais, e cidadãos de todas as religiões, ou até mesmo aqueles que não têm religião.

Num tempo marcado por guerras e conflitos, Francisco foi um incansável defensor da paz e da capacidade de diálogo, na procura do bem comum. Visitou zonas de conflito, encontrou-se com líderes religiosos, apelando sempre ao respeito mútuo. Apelou à construção de pontes e não de muros.

Eu diria que o Papa Francisco cumpriu, de forma exímia, a sua missão: aproximar a Igreja das pessoas, sobretudo daqueles que mais precisam. É por isso que, para muitos, este Papa representou uma nova forma de viver a fé, mais dedicada ao cuidado, menos fechada em si mesma e mais aberta ao mundo atual. Nunca teve medo de dizer o que pensava, de forma clara e direta. Nunca se refugiou em discursos complexos. Foi uma figura profundamente carismática. A figura certa, no tempo certo.

A História encarregar-se-á de julgar o alcance das suas decisões e das suas reformas. Mas creio que não será demais dizer que o Papa Francisco marcou uma geração. Foi, sem dúvida um farol num momento de tantas sombras. Fica o legado de um homem simples, que mudou a forma como todos, todos, todos olham para a Igreja Católica.

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