O diretor clínico da Casa de Saúde de São Rafael, na Ilha Terceira, Luís Melo, alertou hoje para a falta de profissionais de saúde mental nos Açores, defendendo o reforço de médicos, enfermeiros e psicólogos nesta área.

“Toda a região está carenciada de médicos psiquiatras. Já não digo só psiquiatras. Mesmo ao nível de enfermagem, ao nível das equipas multidisciplinares, os psicólogos, tudo isso são precisos numa assistência psiquiátrica, que seja holística”, defendeu o médico, numa audição na Comissão de Assuntos Sociais do parlamento açoriano, reunida em Ponta Delgada.

Luís Melo foi ouvido pelos deputados a propósito de uma proposta do deputado único do PAN, Pedro Neves, que defende a criação de uma estratégia de prevenção e combate ao suicídio no arquipélago, atendendo ao elevado índice de casos nas ilhas.

“Urge combater os números avassaladores da taxa de suicídio da região. Temos de criar uma estratégia eficaz para a prevenção ao suicídio. É fulcral uma sociedade compassiva com as problemáticas de saúde mental e respetivas consequências, para travar este fenómeno”, justifica o partido, no projeto de resolução entregue na Assembleia Legislativa dos Açores.

Além de uma nova estratégica na prevenção do suicídio, o PAN/Açores defende também um aumento do número de profissionais de saúde mental afetos ao Serviço Regional de Saúde (SRS), por entender ser necessária uma intervenção “mais abrangente e musculada”, que garanta medidas de combate e prevenção “mais eficazes”.

O diretor clínico da Casa de Saúde de São Rafael defendeu um “reforço” dos profissionais de saúde mental nos Açores e admitiu que, com os atuais meios humanos que existem na região, “é difícil” assegurar uma prevenção adequada em matéria de suicídio.

“É difícil dar uma resposta nestas situações de prevenção do suicídio em que, muitas vezes, as respostas têm de ser muito breves e os apoios têm de ser criados de uma forma muito precoce, para que não suceda aquilo que tem vindo a suceder nas ilhas, em que a percentagem de suicídios é bastante elevada”, advertiu.

Segundo Luís Melo, apenas a ilha de São Miguel, (a maior dos Açores) terá uma “melhor” cobertura de profissionais de saúde mental, em comparação com as restantes ilhas, adiantando que nas ilhas sem hospital, as respostas clínicas são dadas “à distância”, devido à ausência de médicos psiquiatras.

Para este responsável, é necessário um reforço de incentivos à fixação de mais profissionais de saúde mental nos Açores, mas também mais informação sobre as condições das acessibilidades aéreas entre o continente e o arquipélago, situação que considerou ser determinante para a escolha dos novos psiquiatras que saem das faculdades.

A secretária regional da Saúde e da Segurança Social, Mónica Seidi, que já tinha sido ouvido numa outra audição parlamentar, em janeiro, recordou que o executivo açoriano de coligação (PSD, CDS-PP e PPM), contratou, nos últimos dois anos, “vinte novos psicólogos” para as unidades de saúde da região.

“Os Açores estão a viver um novo paradigma, em matéria de prevenção e combate ao suicídio. Há todo um caminho que, naturalmente, terá de ser feito, que tem de ser melhorado, mas seria de bom-tom recordar que há aqui uma mudança clara de paradigma, que terá de ser mantida e, nalguns casos, melhorada”, admitiu a governante.

Um estudo divulgado em 2023, elaborado pelo psiquiatra João Mendes Coelho, sobre a caracterização da população suicida, entre os anos 2001 e 2021, revela um aumento do número de casos de suicídio nos Açores, em contraciclo com a redução registada no resto do território nacional.

“Para o conjunto do país temos 8,9 mortes por suicídio, por 100 mil habitantes. Aqui na região temos 14,7 e, especificamente para São Miguel, estamos com 16,4, ou seja, quase o dobro da taxa do país”, revelou, na altura, o psiquiatra.

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