Ao longo dos anos, tenho acompanhado com preocupação a forma como têm sido construídos e remodelados pavilhões e polidesportivos um pouco por toda a ilha de São Miguel. Apesar das intenções aparentemente nobres, a realidade mostra que, na maioria dos casos, há um défice grave de planeamento, fiscalização e respeito pelas normas que garantem a segurança e funcionalidade dos espaços desportivos.
O exemplo mais recente chega-nos de São Pedro Nordestino, onde o antigo polidesportivo foi alvo de uma intervenção profunda para se adaptar às exigências do desporto federado. No entanto, como referiu o jornalista José Silva numa das suas crónicas, a remodelação não garantiu a distância mínima de segurança lateral exigida para a prática de futsal – faltavam 11 centímetros. As Leis de Jogo remetem para um regulamento de provas de futsal que neste caso deve ser elaborado pela AFPD, que tem a responsabilidade para as competições organizadas, desde que se salvaguarde a integridade física dos atletas. Ainda assim, não deixa de ser preocupante que esta falha tenha passado despercebida a quem projetou a obra.
A resposta da Associação de Futebol de Ponta Delgada (AFPD) foi criar sim, um regulamento de provas que permitisse, ainda assim, a prática oficial de futsal naquele recinto, compreendo. A medida resolveu o problema legal, mas não apaga o erro de base: descuido no projeto. Uma solução administrativa não deve servir para encobrir lacunas estruturais. O desporto exige mais do que boa vontade – exige rigor técnico.
Outros exemplos corroboram esta tendência. No caso do polidesportivo de São Sebastião, a requalificação ignorou por completo o potencial do espaço disponível. Com área suficiente para um campo de 40×20 metros, acabou-se com um de apenas 38×20, com margem de segurança adequada. Além disso, não foram contempladas melhorias essenciais, como a renovação das cabines, a criação de uma tribuna para a comunicação social ou a modernização das instalações sanitárias. Perdeu-se, assim, uma oportunidade de excelência.
Também o pavilhão de São Vicente, financiado pela CMPD, continua a apresentar sérias deficiências. As cabines continuam exíguas, incapazes de acolher uma equipa de futsal completa, e as zonas secas e húmidas não cumprem os parâmetros legais, não esquecendo a má colocação do cronometro eletrónico por cima do banco técnico e não num dos topos.
Estes detalhes, que deviam ser básicos, continuam a ser ignorados. E a pergunta impõe-se: onde esteve a fiscalização? Quem aprova estes projetos sem garantir o cumprimento das normas mínimas?
Estes são apenas alguns dos casos mais evidentes. O que deveria ser um processo criterioso, com base em regras claras e orientado por especialistas, (engenheiros ou arquitetos) mas também agentes desportivos com conhecimentos sobre instalações desportivas, acaba por ser uma sucessão de erros repetidos. É tempo de repensar a forma como se constroem e remodelam os nossos pavilhões.
O desporto, e quem o pratica, merece estruturas que respeitem a segurança, a funcionalidade e a dignidade.