Um grupo de cidadãos defende a implementação urgente de medidas para mitigar o impacto da interdição a banhos do ilhéu de Vila Franca do Campo, Açores, alertando que a reserva natural é um “pilar económico e social” da comunidade.
Localizado na ilha de São Miguel, o ilhéu de Vila Franca do Campo, uma das principais atrações turísticas dos Açores, será interdito a banhos em 2025 devido aos resultados da qualidade da água dos últimos cinco anos, segundo revelou em março o executivo açoriano (PSD/CDS-PP/PPM).
“A visitação não está interdita. Os banhos é que são desaconselhados e são interditos por lei”, adiantou à Lusa, na ocasião, o diretor regional de Políticas Marítimas dos Açores, Rui Martins.
O ilhéu, classificado como reserva natural, é considerado uma das principais atrações turísticas da ilha de São Miguel.
Para o grupo de cidadãos, que apresentou uma proposta de plano para recuperação e viabilização do acesso balnear ao ilhéu, a interdição prolongada, caso se mantenha, exige “a implementação urgente de medidas de apoio económico às estruturas associativas e empresariais locais, e de mitigação do impacto social e laboral” decorrente da decisão.
“Qualquer solução para o futuro do ilhéu deve necessariamente considerar a sua função como pilar económico e social da comunidade vila-franquense”, lê-se na proposta de plano, enviada às redações, assinada pelos proponentes Miguel Cravinho, Octávio Moreira e Pedro Arruda.
No documento é referido que o ilhéu representa “um dos mais importantes ativos turísticos da região, com um impacto económico direto e indireto muito significativo” para a economia local.
Segundo referem, estima-se que durante os quatro meses da época balnear o ilhéu “receba entre 35.000 a 40.000 visitantes”, o que corresponde a uma receita direta de “aproximadamente 360.000 euros provenientes apenas da venda de bilhetes”.
No entanto, o impacto económico real do ilhéu “vai muito além da bilhética”, sublinham, destacando que a maioria dos visitantes consome refeições em restaurantes e cafés de Vila Franca do Campo, adquire produtos em lojas locais, utiliza serviços de empresas turísticas e, em muitos casos, opta por pernoitar em unidades de alojamento local.
“Com base em estimativas conservadoras de consumo médio por visitante (entre 40 euros e 60 euros), estima-se que o impacto económico global associado à presença do ilhéu ultrapasse os 3,5 milhões de euros por época balnear”, realçam.
Os proponentes referem ainda que este valor tem uma “importância vital” numa economia de “pequena escala” como a de Vila Franca do Campo, onde “muitas micro e pequenas empresas dependem da dinâmica turística que o ilhéu gera”.
Para o grupo de cidadãos, o encerramento da zona balnear terá “um efeito cascata”, que afetará diretamente setores como a hotelaria, restauração, comércio, operadores marítimo-turísticos, entre outros, e “acarreta uma diminuição dos rendimentos familiares, perda de postos de trabalho e um risco acrescido de falência de algumas empresas”.
Para além da relevância ecológica, o ilhéu “é um elemento central na identidade e vida comunitária de Vila Franca do Campo”, lê-se no documento.
Na proposta de plano, os cidadãos defendem que “em vez da exclusão definitiva da zona balnear do ilhéu se implemente um modelo de gestão adaptativa do risco, juridicamente admissível e tecnicamente exequível”, que permita a abertura condicionada da zona balnear durante o verão.
“O ilhéu não pode ser definitivamente interdito sem esgotar todas as possibilidades legais, técnicas e humanas para a sua valorização e proteção partilhada”, consideram, destacando que se trata de “um ícone da imagem promocional do município e da Região Autónoma dos Açores”.
Os autores do documento consideram ainda que é necessário e urgente conseguir um entendimento entre os vários intervenientes: a autarquia, o Governo Regional, associações cívicas locais, bem como dos cidadãos.
A primeira classificação negativa da qualidade das águas do ilhéu ocorreu em 2020 e no ano seguinte foi criado um grupo de trabalho, que integrou representantes do Governo Regional, do município de Vila Franca do Campo e da delegação de saúde, entre outras entidades.