O gabinete de arqueologia do município de Vila Franca do Campo prevê iniciar em maio escavações na igreja do antigo convento de Santo André, após uma prospeção por georradar que facilita a intervenção no terreno, foi hoje divulgado.

Segundo o arqueólogo municipal, Diogo Teixeira Dias, na última semana de março foi feita uma prospeção por georradar aplicada à arqueologia (espécie de radiografia ao solo) – técnica utilizada pela primeira vez nos Açores -, no forte do Tagarete, na Praça Bento de Góis (presume-se que tenha sido o primitivo centro histórico de Vila Franca do Campo antes do terramoto de 1522) e também no interior da igreja e terrenos do antigo convento de Santo André.

O trabalho realizado possibilita “um planeamento mais cirúrgico” das intervenções arqueológicas a realizar nos próximos cinco anos no concelho, mas o município vai dar prioridade à igreja do antigo convento, no âmbito de um protocolo celebrado com a diocese de Angra, que pretende devolver o templo religioso à comunidade.

A intervenção arqueológica no interior da igreja – classificada como Imóvel de Interesse Público desde 2008 – será feita em locais que dependem dos resultados da prospeção geofísica, mas este levantamento prévio permite “escavar de uma forma mais cirúrgica, eficaz e eficiente”, de acordo com declarações do responsável à agência Lusa.

No interior do monumento, os investigadores preveem encontrar algumas das fundações da antiga matriz, que se perdeu com o terramoto do século XVI, e, sobretudo, “os enterramentos que lá poderão estar e que são um dado importante” para o estudo da história de Vila Franca do Campo.

“Até ao final desta primeira quinzena de abril prevemos ter já disponíveis os dados, em relatório, da prospeção geofísica da igreja de Santo André e, nesse seguimento, prevemos, já a partir de maio, iniciar a intervenção arqueológica”, disse Diogo Teixeira Dias.

Segundo o arqueólogo municipal, as escavações devem envolver alguns alunos voluntários e elementos da comunidade “que queiram intervir no processo”.

Na igreja de Santo André a autarquia vai manter o registo que foi aplicado no forte do Tagarete, com o espaço acessível aos visitantes durante as prospeções.

“Nós queremos que a escavação seja aberta ao público, que as pessoas possam entrar, que possam observar o processo e nele participar também, porque cremos que é a melhor forma de fazer este tipo de intervenções”, justificou.

As escavações serão dirigidas pelo arqueólogo municipal de Vila Franca do Campo e também envolverão uma antropóloga forense que está a estagiar na autarquia.

A igreja de Santo André integra o convento com o mesmo nome e a sua origem remonta à reconstrução da vila após o terramoto de 1522, “que destruiu grande parte da localidade, incluindo a primitiva igreja matriz de São Miguel Arcanjo que era, ao que tudo indica, naquele mesmo local”, adiantou Diogo Teixeira Dias.

“Ali se ergueu uma ermida, dedicada a Santo André, entre 1522 e 1525, seguida da fundação do convento em 1533, destinado às freiras da Ordem de Santa Clara, transferidas da Caloura por receio de ataques corsários”, acrescentou.

O conjunto arquitetónico sofreu várias ampliações nos séculos XVII e XVIII e, em 1832, após a extinção das ordens religiosas, o convento foi encerrado e integrado na Fazenda Nacional, sendo mais tarde adquirido e transformado pelo Visconde do Botelho.

No século XX, a igreja foi alvo de novas intervenções, “incluindo a reconstrução da fachada ao estilo neogótico”.

O imóvel está fechado ao público e, em março deste ano, a Câmara de Vila Franca do Campo e a diocese de Angra (proprietária da igreja) assinaram um protocolo para realização de um projeto científico e cultural, que inclui a realização de escavações arqueológicas, análises de antropologia forense, conservação e restauro e inventariação dos bens móveis e integrados, para que o espaço seja devolvido à fruição pública.

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