O eurodeputado Paulo do Nascimento Cabral visitou a Lisnave, em Setúbal, no âmbito do seu Roteiro da Reindustrialização, marcando assim a sua primeira visita fora dos Açores. Durante o encontro com o Conselho de Administração da Lisnave – Estaleiros Navais, S.A, expressou preocupação com a “continentalização da União Europeia” e defendeu um maior foco no Atlântico em setores estratégicos da economia azul, como a reparação naval. “A Lisnave é um excelente exemplo dessa importância”, destacou.
O eurodeputado sublinhou ainda a relevância geoestratégica de Portugal no contexto europeu, especialmente após a saída do Reino Unido da UE. “Portugal é um país de marinheiros que deu novos mundos ao mundo. Cerca de 80% do comércio externo da UE e até 40% do comércio interno decorrem por via marítima, sendo o Atlântico um eixo crucial. Além disso, cruzam este oceano quase duas dezenas de cabos submarinos que precisam de proteção e monitorização”, afirmou. Enfatizou ainda o papel da economia azul na segurança e defesa, destacando a necessidade de uma indústria naval forte para atender a estas exigências.
Durante a visita, o CEO da Lisnave, Nuno Antunes dos Santos, apresentou os dados estruturais da empresa. Constituída em 1961 e com estaleiros inaugurados na Mitrena em 1974, a Lisnave é uma empresa portuguesa com 97% de capital privado. Possui seis docas secas, oito cais acostáveis e ocupa uma área de 1,5 milhão de metros quadrados. Conta com cerca de 500 trabalhadores diretos, aos quais se juntam subcontratações que elevam esse número a 2.100. A empresa repara anualmente entre 80 e 100 navios, gerando receitas entre 100 e 120 milhões de euros. Destaca-se também pela aposta na formação, tendo qualificado mais de 600 profissionais desde 2006, bem como pelo seu compromisso ambiental, com certificações ISO 14001, 9001 e 45001, além de investimentos em energia renovável e estações de tratamento de águas residuais.
Paulo do Nascimento Cabral lamentou o declínio da construção naval de grande porte na Europa, incluindo navios militares, apontando os altos custos das matérias-primas e a escassez de mão de obra como fatores determinantes. “Isto tem de ser revertido. A União Europeia está a perder autonomia estratégica”, alertou. O eurodeputado também denunciou as dificuldades enfrentadas pela indústria de reparo naval na Europa devido às elevadas exigências ambientais e regulamentares, que tornam mais barato realizar esses serviços na Ásia. “Não faz sentido. Temos de apoiar diretamente os estaleiros navais sustentáveis”, defendeu.
Nuno Antunes dos Santos, também Vice-Presidente da SEA Europe (Associação Europeia das Indústrias Navais), destacou que a entidade enviou uma carta à Presidente da Comissão Europeia, acompanhada por um manifesto, reivindicando uma nova estratégia industrial marítima para a Europa. A proposta inclui a construção e modernização de 10 mil navios sustentáveis até 2035, reforçando a soberania industrial europeia e impulsionando a economia azul. Segundo ele, a iniciativa tem potencial para gerar 500 mil novos empregos e fortalecer a segurança energética e a defesa.
O eurodeputado defendeu a inclusão da indústria naval no Pacto do Oceano e anunciou que organizará, em Bruxelas, um evento dedicado ao setor naval europeu e, em particular, à indústria naval portuguesa. Destacou ainda a importância da aposta da Lisnave na produção de plataformas eólicas flutuantes e na reciclagem naval. “A primeira é essencial para a descarbonização da UE, e a segunda permite manter na Europa matérias-primas como ferro e aço, reduzindo a dependência externa”, concluiu.