A guerra na Ucrânia entrou, esta semana, no seu terceiro ano. Num momento absolutamente crítico para aquilo que é o futuro da resistência ucraniana e da segurança europeia. Este é também um momento crucial para a diplomacia internacional. A tomada de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América representa uma mudança potencialmente significativa na dinâmica deste conflito, dada a sua posição ambígua em relação àquilo que tem sido o apoio à Ucrânia e à NATO.
Durante o seu primeiro mandato, Trump demonstrou uma visão algo isolacionista e cética em relação ao envolvimento militar dos Estados Unidos em conflitos externos, assim como questionou reiteradamente a relevância da NATO. Agora, regressa à Casa Branca com um discurso que sugere um distanciamento dos compromissos de Washington perante Kiev. A possibilidade de uma redução ou até mesmo da suspensão da ajuda militar e financeira americana à Ucrânia pode representar um duro golpe para as forças ucranianas, que dependem fortemente do apoio ocidental para resistir à agressão russa.
Caso os EUA diminuam os seus contributos e, consequentemente o seu envolvimento, a União Europeia e a NATO enfrentarão um desafio estratégico de elevada magnitude. Até agora, o esforço de guerra do lado ucraniano tem sido amplamente sustentado pela ajuda estado-unidense. Sem esse suporte, os países europeus terão de aumentar, de forma substancial os seus investimentos na defesa da Ucrânia, o que poderá ser um teste à unidade e à capacidade de resposta.
A Rússia, por sua vez, vê a eventual retirada americana como uma oportunidade para reforçar a sua posição no terreno. Putin tem apostado numa estratégia de desgaste, confiando naquilo que é a fadiga do ocidente e na diminuição do apoio à Ucrânia para alcançar os seus objetivos.
Adicionalmente, o segundo mandato de Trump poderá aprofundar a fragmentação do cenário geopolítico, com a Rússia a explorar divisões no Ocidente para fortalecer a sua posição. A recente aproximação entre Moscovo e Pequim e o reforço das relações com países como o Irão ou a Coreia do Norte, são sinais evidentes de uma estratégia global de oposição ao Ocidente, que poderá ganhar um novo fôlego num contexto de alteração do posicionamento americano.
Por tudo isto, a Ucrânia enfrenta agora um dos momentos mais críticos e delicados desde o início da invasão em 2022. Com a possibilidade de uma redução do apoio americano, Kiev terá de reavaliar a sua estratégia militar e diplomática, procurando reforçar alianças na Europa e explorar novas fontes de apoio.
A possível mudança no posicionamento dos Estados Unidos não afeta apenas a Ucrânia, mas tem implicações profundas para a ordem internacional. O conflito tornou-se num ponto central na redefinição da relação entre as grandes potências e é também um teste ao compromisso do Ocidente com a defesa da soberania dos Estados.Com Trump na Casa Branca, o mundo está num período de incerteza, onde as decisões de Washington poderão determinar não só o desfecho da guerra na Ucrânia, mas também o futuro da segurança europeia e da estabilidade global.