Nos corredores do parlamento, e até no próprio plenário, onde se deveria discutir o futuro do país, assiste-se a um triste espetáculo de insultos, ataques pessoais e infantilidades que envergonham qualquer cidadão minimamente consciente. Na minha perspetiva, o debate político, em Portugal, atingiu o nível zero. Um nível indigno de uma democracia que se quer séria e respeitada.

Numa altura em que o país enfrenta imensos problemas estruturais, desde a degradação clara dos principais serviços públicos, à falta de uma estratégia agregada para garantir um crescimento económico sustentável, passando pelos desafios inerentes ao envelhecimento da população e a incapacidade de criar condições atrativas à retenção dos mais novos, os deputados eleitos para representar os interesses dos portugueses preferem dedicar-se às guerrilhas e ao insulto barato, no seio da bolha onde estão inseridos. A questão que se impõe é: a quem é que serve isto? Seguramente não será ao povo, nem sequer ao país que precisa urgentemente de soluções concretas.

A Assembleia da República transformou-se numa espécie de ringue de combate, onde a retórica política foi substituída pelo puro insulto. Esquerda contra Direita, centro contra extremos, todos contra todos, sem limites. O que interessa não é a qualidade dos argumentos, mas sim a intensidade do ataque, a graça ou o soundbite mais viral. Este é o nível atual da política em Portugal. Temos políticos que se comportam como concorrentes de um reality show, mais preocupados em ganhar pontos junto daqueles que os apoiam do que em resolver os problemas reais do país.

Os portugueses, cansados e desiludidos, assistem a este circo com um misto de indignação e desespero. Enquanto os deputados se insultam mutuamente, os problemas na saúde não diminuem, a educação degrada-se, a justiça arrasta-se e a economia não se desenvolve. Pequenos empresários lutam para manter os seus negócios, jovens qualificados abandonam o país à procura de um futuro digno.

No meio de tudo isto, quem levanta a voz contra a degradação do debate político? De quem é a responsabilidade de mediar e limitar insultos e incentivos ao ódio? Mais importante, onde está a responsabilidade e o compromisso dos partidos pelo bem comum? De alguma forma, parece-me que o interesse nacional é posto de lado, em favor da vaidade e do protagonismo fácil. Não pode ser assim. Não pode valer tudo.

Portugal não precisa de deputados que concorrem para ver quem grita mais alto, que se insultam mutuamente ou que fazem manchetes com momentos que procuraram que se tornassem virais. Precisa de pessoas com sentido de Estado, de políticos sérios e credíveis, de pessoas que entendam que representar a população é um privilégio e uma responsabilidade acrescida e não um palco para espetáculos degradantes como aqueles a que temos assistido.

Se os políticos querem discutir, que o façam, com inteligência, com substância e com respeito. O país está farto de comportamentos irresponsáveis e de jogos partidários mesquinhos. Chega de encenações e de populismos baratos, a bem da democracia. Os cidadãos têm o dever de exigir mais e melhor. Portugal e a democracia merecem mais respeito e os políticos devem ser os primeiros a dar o exemplo.

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