10 de fevereiro de 2025. O Açoriano Oriental noticiou questões de Cultura, com a apresentação dos novos números de visitantes dos museus, na Região e com uma particular referência à iniciativa Diário de Bordo – Cultura Açores, promovida pela respetiva direção regional. Como é habitual, são assuntos a que estou atenta.
É que vivemos tempos horríveis, e o regresso do salazarismo só poderá ser combatido com verdadeiras estratégias de literacia cultural que, infelizmente, o Governo Regional parece ignorar.
Todavia, o que chamou a atenção na reportagem do Açoriano Oriental, em primeira instância, foi o destaque oferecido ao tal diário de bordo. Em letras garrafais, lê-se que foram já vendidos mais de trezentos exemplares. A pessoa mais atenta poderá debruçar-se sobre as letras pequenas e fazer contas de sumir. É que o jornal anuncia que, em 2024, verificaram-se 254 110 visitantes nos museus dos Açores. O tal diário começou já em setembro de 2023, ou seja, ainda contou com os números do ano anterior. Trata-se de uma compra relativamente inócua, aberta a quem estiver com vontade da mesma, pelo simples preço de cinco euros.
E só foram vendidos trezentos exemplares? Esta é uma iniciativa digna de ser devidamente publicitada? Não deveria ser antes um motivo de vergonha para a Direção Regional da Cultura? Investiram-se verbas que poderiam ter sido adequadamente empregues noutros setores, cada vez mais adormecidos. Editaram-se demasiados exemplares do livrinho. Promoveram-se sessões públicas, com a comunicação social e dignatários presentes. Para se vender trezentos exemplares num ano e meio? É esta a nossa Cultura?
Não. Esta parece ser a Cultura de Duarte Chaves, anterior diretor regional, que aparenta nunca ter deixado de ser. A Direção Regional competente em matéria cultural parece estar refém de duas figuras que não se reveem no trabalho que ali se deveria fazer.
Sobre a Sra. Secretária já abordei anteriormente, e, caso não surjam novidades, haverá mais para falar no futuro.
Mas Duarte Chaves foi sumariamente despedido no começo de 2024, sem serem tornados públicos os motivos que levaram a tal, e, no entanto, é ele que parece continuar a controlar os destinos daquele barco.
Dizem as vozes dos corredores da sede da direção regional que Chaves continua a percorrer aquelas salas como se fosse ainda o grande chefe do templo cultural.
Ouvem-se burburinhos sobre reuniões com as chefias, para a realização de iniciativas que desconhecemos, mas podemos apenas imaginar com temeridade. E sente-se a sua mão na forma como o tal Diário de Bordo, que parece ter sido ideia dele, mas cuja conceção é do anterior governo (aquele que serve de argumento para a ineficácia do atual), sob o nome de “Passaporte Cultural”, facilmente consultável nos arquivos da RTP-Açores (https://acores.rtp.pt/cultura/governo-regional-quer-avancar-com-a-criacao-do-passaporte-cultural-video/) continua a ser a grande manchete da Cultura para o ano transato, mesmo que só tenha vendido uns vergonhosos trezentos exemplares, num universo de duzentos e cinquenta mil pessoas que tiveram acesso ao mesmo.
De referir que mesmo no que concerne ao número de visitantes, a história não está bem contada. O Museu da Horta, por exemplo, aparece como caso de sucesso em 2024, mas quando confrontados os dados com o número de visitantes em 2022, verificamos que perdeu uma quantidade substancial. O mesmo acontece noutros serviços externos daquela direção regional. Verifica-se que a mudança de diretores e chefias, também ela encetada pelo comando de Duarte Chaves, trouxe consigo uma realidade paralela, cujo sucesso apenas é garantido quando propagandeado em Jornais.
Duarte Chaves permanece representante ativo nas cerimónias de divulgação do projeto de levantamento do património imaterial da Viola da Terra, que foi bandeira dele e dos seus correligionários, e que ele promove sempre que pode, mesmo que ainda não se vejam quaisquer resultados que justifiquem o investimento que ali foi injetado. E é Chaves que surge como capa dos Açores na participação no último encontro de boas-práticas museológicas, realizado em novembro do ano passado, nas Canárias. Foi ele que foi falar pela DRAC e não a senhora diretora, que já o era há largos meses.
Somadas todas as aparentes evidências e o resultado parece tornar-se evidente.
Duarte Chaves, que recentemente assumiu um cargo oficial na reitoria da Universidade dos Açores, como coordenador de projetos culturais, aparenta nunca ter deixado de ser o Diretor Regional da Cultura. Não sabemos se terão sido inocentes as muitas aproximações que promoveu com a universidade enquanto diretor, aliás.
E agora, sempre que pode, rouba, de forma injusta, protagonismo a Sandra Garcia, de tal forma que a atual diretora aparece apagada, forçada a dar entrevistas aos jornais para falar de iniciativas do seu antecessor.
No mesmo dia em que o Açoriano Oriental falava dos tais trezentos livrinhos vendidos, outros jornais nacionais davam a notícia de que Sandra Garcia tinha recebido, e bem, o prémio AUDIÊNCIA – Novos Horizontes 2024, pelo seu papel, enquanto mulher na política e na cultura.
Mas foi o trabalho de Duarte Chaves que voltou a correr tinta no arquipélago. Um trabalho que não tem resultados, que não os cargos que ele vai acumulando no currículo e os tais trezentos livros, que não se comparam aos muitos que estão guardados em armazém.
Vivemos tempos tenebrosos. As sombras crescem em todo o lado. Não estranhamos a presença de um diretor regional sombra. Mas não podemos deixar de o dizer.
A equipa da direção regional conta com profissionais de excelência, apagados pelo ego de determinadas estratégias para alguns se pavonearem que, se não forem travadas, correm o risco de engolir o arquipélago inteiro. E Sandra Garcia merece o lugar para o qual foi nomeada. Mais Cultura. Menos promoção individual.