Portugal vive um momento político e social especialmente delicado, em que a credibilidade das suas lideranças é constantemente posta à prova. As recentes investigações e escândalos que marcaram o cenário político nacional, com especial destaque para a Operação Tutti Frutti, têm vindo a expor uma realidade preocupante: a total ausência de rigor, de respeito pelas instituições e de exemplo ético por parte daqueles que deveriam servir os interesses da população. O que deveria ser um farol de confiança, em que os representantes do povo se guiam pela moral e pela responsabilidade, tornou-se, em muitos casos, num antro de interesses pessoais e partidários, onde as prioridades parecem estar longe do bem comum.

O caso da Operação Tutti Frutti é um reflexo direto deste estado de coisas. Numa investigação que envolveu figuras políticas de diferentes quadrantes, foram expostas práticas de favorecimento, corrupção e tráfico de influências. As suspeitas não param por aqui, e o que é ainda mais preocupante é que este não é um caso isolado. Os deputados do Chega, Bloco de Esquerda e outras figuras políticas estão igualmente no centro de acusações gravíssimas. Muitas destas situações não são acidentes pontuais, mas antes a expressão de uma cultura enraizada no seio da política portuguesa, onde a transparência e a ética parecem ser ignoradas.

O que está em jogo não são apenas os escândalos que ganham as manchetes dos jornais, mas a própria confiança do povo português nas suas instituições. Os cidadãos sentem-se traídos, dececionados e, mais grave ainda, impotentes. Quando os políticos, ao invés de se dedicarem ao serviço público, se entregam a práticas de corrupção e desonestidade, a democracia começa a ser corroída por dentro. A indignação não é apenas uma reação emocional, mas uma expressão legítima de uma sociedade que vê o seu futuro comprometido pela indiferença e pela falta de responsabilidade de seus governantes.

As reações das instituições, por sua vez, não têm estado à altura da gravidade da situação. Em muitos casos, os responsáveis diretos por essas práticas continuam a ocupar posições de poder, sem qualquer tipo de sanção efetiva. Essa falta de consequências é um sinal claro de que o sistema poderá estar a implodir, e que os políticos não têm de prestar contas à população. Isso, claro está, alimenta a sensação de impunidade e reforça a desconfiança na classe política.

Num cenário como este, onde o exemplo de rigor, de integridade e de respeito pelas normas e pela ética parece ser mais uma exceção do que a regra, a credibilidade da classe política em Portugal está em risco. A cada novo escândalo, a democracia vai enfraquecendo e o fosso entre eleitos e eleitores aumenta. As promessas de renovação política, feitas há anos, continuam a não passar de palavras vazias. A política não pode ser tratada como um jogo de interesses pessoais, onde se faz uso do poder como uma ferramenta de autopromoção ou de enriquecimento. A política, no seu sentido mais elevado, é o compromisso com o bem-estar coletivo, com a justiça social, com a dignidade dos cidadãos.

O momento que atravessamos exige, com urgência, uma reflexão profunda por parte de todos os envolvidos no processo político. É necessário que a classe política portuguesa devolva ao país o exemplo de ética, de responsabilidade e de respeito que os cidadãos tanto merecem. Caso contrário, arriscamo-nos a ver a democracia portuguesa fragilizada de forma irreparável, e, com ela, a confiança de todo um povo nas suas instituições.

A crise de exemplo e de ética na política portuguesa não é uma questão de partidos ou de ideologias. É uma questão de responsabilidade. Os políticos, independentemente da sua afiliação partidária, têm a obrigação moral de ser um reflexo de valores que são universais. É isso aquilo que se espera de quem ocupa cargos públicos. Não se trata apenas de governar, mas de dar o exemplo. E, neste momento, esse exemplo está a ser péssimo.

Se não houver uma mudança radical no comportamento dos nossos representantes, e se não houver uma verdadeira responsabilização pelos atos cometidos, a desconsolidação da democracia será uma realidade cada vez mais próxima. Já não basta o discurso vazio. Exige-se atitude, exige-se medidas concretas e exige-se respeito. Só assim será possível reconstruir o que foi quebrado: a confiança na política e, mais importante, a fé na democracia.

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