A comunidade açoriana radicada nos Estados Unidos está “tranquila” em relação à política de imigração da administração Trump e fala em “alarmismo” por parte da comunicação social portuguesa, segundo testemunhos dados à Lusa.
Francisco Resendes, natural dos Açores, diretor do jornal de expressão portuguesa Portuguese Times, que se publica em New Bedford, no estado de Massachusetts, disse à agência Lusa que “em todas as administrações, em Washington, sempre houve deportações”, tendo a administração de Barak Obama “sido a que mais deportou imigrantes indocumentados”.
O responsável pela publicação refere que a comunidade portuguesa nos Estados Unidos – estimada em cerca de 1,5 milhões de pessoas – “mudou de paradigma” e “está [hoje] integrada”.
“É participativa e muita ativa no processo político, económico e social do país”, sendo “muito bem vista a todos os níveis”, ressalva Francisco Resendes.
O diretor do Portuguese Times, conhecedor da comunidade de origem açoriana concentrada predominantemente nos estados da Califórnia, Massachusetts e Rhoad Island, refere que “há de facto emigrantes [portugueses] indocumentados, mas em pouco número”, que “fazem a sua vida e os descontos para a segurança social e fiscal”.
“Tem havido, claramente, um alarmismo, sobretudo por parte dos órgãos de comunicação social de Portugal, que desconhecem a realidade da comunidade portuguesa”, afirma.
Francisco Resendes diz que a comunidade “está perfeitamente tranquila porque 90% dos portugueses radicados estão com a sua situação resolvida”, tendo “muitos adquirido a sua cidadania a partir dos ataques às torres gémeas de 2001, prevendo-se leis mais restritivas” em termos de política de imigração.
O diretor do Portuguese Times está convicto que as restrições em termos de imigração por parte da administração Trump “estão muito direcionadas para a fronteira sul”.
Já o presidente da Casa dos Açores da Nova Inglaterra, Francisco Viveiros, também natural dos Açores, explica à Lusa que a comunidade – principalmente a residente em Massachusetts e Rhoad Island – “está em estados considerados santuários”.
Isso significa que as “polícias de cidade e mesmo os estaduais têm ordens dos governadores para não colaborarem com a polícia federal, no caso da polícia de imigração”, sendo esta uma realidade de “há já muitos anos”, afirma.
O responsável pela Casa dos Açores da Nova Inglaterra admite que “em relação aos indocumentados é que se pode pensar que irá haver um aumento de deportações, exatamente da mesma maneira que houve quando foi do presidente Obama e mesmo de Bush”.
Contudo, refere que, apesar de “algumas [pessoas] estarem ilegais”, muitas “têm o seu cartão de contribuinte e fazem os seus descontos, preenchem o seu IRS”, estando “perfeitamente sossegadas”.
“As pessoas estão a viver normalmente”, descreve.
De acordo com Francisco Viveiros, “nota-se que cada vez há menos indocumentados” de origem açoriana nos Estados Unidos porque “há uma maior consciencialização” de que “ao virem ilegais de Portugal nunca mais serão legalizados”.
O responsável pelo organismo representativo dos açorianos na Nova Inglaterra frisa que a comunidade emigrante “está minimamente tranquila”, “não a 100%”, mas “minimamente tranquila”.
A maior “onda” de emigração dos Açores para os Estados Unidos teve início em 1958, quando o então senador John F. Kennedy levou ao Congresso a lei “Azorean Refugee Act”, que permitiu a milhares de refugiados do vulcão dos Capelinhos recomeçarem as suas vidas naquele país, juntamente com açorianos de outras ilhas.
Em 2024, os Estados Unidos repatriaram 69 portugueses, mais nove do que no ano anterior, segundo o relatório anual dos Serviços de Imigração e Alfândegas norte-americano (ICE, na sigla inglesa).