A Assembleia Legislativa dos Açores aprovou hoje, por maioria, uma proposta da bancada do PS que recomenda ao Governo a realização de um estudo de avaliação do processo de implementação dos manuais digitais nas escolas da região.

“Este processo avançou sem estar devidamente consolidado”, acusou Inês Sá, deputada do PS no parlamento açoriano, lembrando que “há professores que se sentem perdidos com as novas tecnologias” e que não têm o devido acompanhamento por parte da tutela, situação que se aplica também a muitos alunos.

A iniciativa socialista propõe que a Secretaria Regional da Educação apresente, num prazo de nove meses, os resultados de um estudo sobre o impacto da aplicação desta medida, que foi introduzida, como experiência-piloto, no ano letivo e 2021/2022, em apenas duas turmas do 6.º e 9.º anos de escolaridade.

A titular da pasta da Educação no arquipélago, Sofia Ribeiro, explicou em plenário que o Governo Regional de coligação (PSD/CDS-PP/PPM) está a ultimar o caderno de encargos para lançar a concurso a realização de uma avaliação externa aos manuais digitais, mas que só ficará concluída no próximo ano letivo.

“Esperamos que ao final de nove meses, possamos ter um primeiro relatório a dar-nos nota dessa avaliação, e ao final de 18 meses, termos então aí um relatório final, para fazermos essa comparação”, justificou a governante, adiantando tratar-se de “um estudo muito completo”.

A proponente criticou a demora e insistiu que era possível fazer essa avaliação em menos tempo: “A Madeira implementou isto de forma exemplar e tem os resultados à vista! Houve avaliações em dois meses! Não me digam que não é possível avaliar o impacto [dos manuais digitais] ao fim de um ano letivo!”.

Délia Melo, deputada da bancada do PSD, explicou aos deputados que o estudo que o Governo de direita está agora a preparar é “mais completo” e “mais abrangente” e, como tal, deverá demorar mais tempo a conhecerem-se os seus resultados.

“Para fazer esse estudo com uma avaliação externa, implica a recolha de dados para análise comparativa, que implica a observação, aplicação de inquéritos, questionários, tratamento de dados, que não se fazem no período de tempo que o grupo parlamentar do PS propõe”, ressalvou a deputada social-democrata.

Opinião semelhante manifestaram também os deputados Catarina Cabeceiras (CDS), Hélia Cardoso (CH) e João Mendonça (PPM), que entendem que, para se fazer uma avaliação “bem feita”, o prazo de nove meses, proposto pelo PS, “é curto”.

Durante a discussão da proposta socialista, Nuno Barata, deputado da Iniciativa Liberal, levantou muitas dúvidas sobre a utilidade dos manuais digitais nas escolas dos Açores, lembrando que os resultados alcançados pelos alunos do ensino secundário, onde não há ainda manuais digitais, revelam que, afinal, o papel ainda é uma boa ferramenta de estudo.

“São aqueles que estudaram em manuais em papel, que fizeram o seu percurso académico no secundário sem terem utilizado os manuais digitais, que estão a ter os resultados que agora se conhecem”, insistiu o parlamentar liberal.

Já António Lima, do Bloco de Esquerda, manifestou preocupação com o futuro dos manuais digitais, que foram adquiridos com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência, (PRR), mas cuja substituição, não está ainda assegurada.

“Quando acabar o dinheiro do PRR, eu quero ver qual é a solução que o Governo tem para garantir a renovação de todo esse equipamento, a cada dois ou três anos!”, advertiu o parlamentar bloquista, acrescentando que é preciso saber “como é que o executivo “vai financiar” esses novos equipamentos.

A proposta do PS foi aprovada por todos os partidos com assento parlamentar, à exceção dos deputados das três formas políticas que formam o executivo açoriano (PSD, CDS-PP e PPM), que se abstiveram.

 

PUB